O nivelar por baixo e o “patas arriba” são a essência mesma do 25-IV.

Essa sim, foi a verdadeira revolução consumada. Cuidavam, os seus autores, como abissais ignorantes que eram, terem resultados imediatos – e os resultados foram a volta, em humilhantíssimas condições, de centenas de milhares de compatriotas. Um dos mais negros momentos da nossa multi-secular História a conspurcar afirmação, empreendimento e realização – heróicos em muitos casos – em lugares remotos, inóspitos, de que só alguém com vivências in loco pode cabalmente falar. Em vez da solidariedade que, entre compatriotas, se tem como um pressuposto, antes despejo, ostensivo desprezo.
Assim, falar hoje, hic et nunc, de ausência de valores, degradação de valores, impunidade (felizmente a Justiça está a afirmar-se, ser motivo de respeito), corrupção, incompetência, ignorância, ausência de democracia – para não nos determos já nas aporias de um tal regime no contexto dos tempos que nos são dados viver – todo esse rol é, tão-só, uma redundância, uma apodíctica, ou, de outro modo, era fatal que assim fosse.
Um regime inqualificável, que, contra a vontade dos mais lídimos portugueses quer impor um acordo ortográfico que é uma infâmia (vide o meu mini-ensaio E Viva Angola!! Publicado na Nova Águia, nº 14), ou que, no último Dez de Junho, em Lamego, proíbe os monárquicos de erguerem e mostrarem as suas bandeiras (apenas dois exemplos).
Tinham, tais autores, alguma fé de que as coisas fossem melhores?
Os apertos financeiros – de que o último é o mais aflitivo – mostram quão consistente era a sua ignorância. Tudo, claro, num contexto de enxurrada de imanência a cujos resultados só um escol escapa. Foram – e são; e serão – a anti-inspiração para o povo em nome do qual sempre, despudoradamente, declararam falar. A alienação do futebol – e do fado – jamais antes tinham atingido tais excessos (bem a criticavam antes do 25-IV…)  
Desviada a Nação dos seus trilhos históricos nada mais lhes faltava que baterem às portas da “Europa”, tidos pela ideia de um tempo de “leite e mel”. Ignoravam (ignoram) que o pão se come com o “suor do rosto” e quando, neste preciso momento, Tsipras invoca a solidariedade europeia – tendo os gregos até agora sido um paradigma de insolidariedade – Tsipras, dizia, é, dessa gente, o coerente espelho.
Ninguém ajuda ninguém se não nos ajudarmos a nós próprios; ninguém ajuda ninguém se não soubermos que não é à retórica circunstancial de salão ou quejandos que devemos ou podermos ancorar-nos, antes ao labor profundo da meditação e ao deixarmos realização. Atraiçoamo-nos e à nossa comunidade quando sonegamos o que, mais tarde ou mais cedo, já não poderá escamotear-se. Da Europa?! – Pois não foi Portugal um dos membros fundadores da AECL (Associação Europeia de Comércio Livre; EFTA, na sigla em inglês)?
Quando surgiu a arenga d’“A Europa connosco” tal questão era, havia muito, desiderato assente e encaminhado – e isto tem que saber-se.
E quem abriu a porta a tal enxurrada de despautérios e dramas?
    Guarda-21-VI-2015