Lucas apresenta-nos hoje o encontro de Jesus com Zaqueu, um ‘homem rico’ que ‘era chefe de publicanos’.

Jesus passava por Jericó, a caminho de Jerusalém. Seguia-O uma numerosa multidão que impedia este cobrador de impostos de “ver quem era Jesus” (Lc 19, 3). Então, como era de baixa estatura, “correu mais à frente e subiu a um sicómero, para ver Jesus, que havia de passar por ali” (v. 4). E eis que os papéis se invertem. Antes do pequeno Zaqueu ver Jesus, já o Mestre o tinha visto. Antes do publicano dizer alguma coisa, é Jesus quem lhe diz que quer pernoitar em sua casa. Em vez de ser Zaqueu a ver o nazareno, é ele que é olhado, tocado e recuperado por Jesus. A passagem do evangelho é interessante, mas torna-se ainda mais interessante quando descobrimos nela algumas analogias com outras personagens bíblicas importantes.

Antes de chegar a Jericó, Jesus curara a cegueira de Bartimeu (Lc 18, 35). Há, entretanto, cegueiras piores do que a física e que impedem reconhecer Jesus. Zaqueu era um desses casos. Cego pela ganância, pela corrupção e pelo dinheiro, andava perdido no pecado. O texto deste Domingo mostra-nos que, no entanto, também este tipo de cegueira tem cura. Embora de modo diferente de Bartimeu, Jesus abriu os olhos de Zaqueu, e levou-o a perceber que a verdadeira felicidade não está no acumular, mas na partilha. E esta cura levou Zaqueu a transformar a sua vida, começando por “dar aos pobres metade dos bens, e a restituir quatro vezes mais a quem tinha prejudicado” (Lc 19, 8). O encontro com Jesus transformou este pecador, que não se limitou a bater com a mão no peito. Passou do encontro com Cristo ao encontro com os irmãos.

Livremente, Zaqueu tomou a iniciativa que, dias antes, o ‘jovem rico’ não conseguira tomar. Este jovem, apesar de cumprir a Lei escrupulosamente, não fora capaz de vender tudo o que possuía para acumular um tesouro no Céu, e afastara-se de Jesus, pesaroso. O encontro com o Mestre não tinha gerado a transformação necessária. Na sequência, Jesus desabafara aos discípulos que era “mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus” (Lc 18, 22-25). Zaqueu, por outro lado, vem mostrar que, afinal, é possível. O encontro com Jesus transformou-o radicalmente. O olhar de Jesus operou nele uma mudança de vida. Deixou-se configurar com Ele. E esta configuração com Cristo recuperou-o para Deus. Andava perdido, mas foi reencontrado. E podemos imaginar a festa que, no Céu, Deus fez pelo regresso deste filho a Sua casa, são e salvo (Lc 15, 32)!

Senhor Jesus, como Zaqueu também eu Te quero ver. E como a Zaqueu, olhas-me Tu primeiro, com um olhar terno, que não julga, não condena, mas transforma, recupera, regenera. Abre os meus olhos para perceber onde está a verdadeira felicidade. Torna-me generoso e solidário, capaz de repartir os dons e os bens que me deste.
Amén.