Esta semana Jesus propõe-nos outra parábola que nos pode deixar incomodados,

porque o critério de justiça divina apresentado parece desajustado. Jesus fala de um homem rico que se vestia esplendidamente, mas não nos diz que era mau. Fala também do pobre Lázaro, coberto de chagas, e pouco mais nos é dito sobre ele. Naturalmente questionamo-nos sobre que mal terá cometido o rico para, depois de morto, merecer tal castigo, ou que bem fez Lázaro para receber tal recompensa. Nos discursos de Jesus a relação entre a salvação e a riqueza ou a pobreza é bastante recorrente. Em diversas ocasiões Ele diz que o apego à riqueza, o risco da autossuficiência, a ganância, a sensação de falsa segurança proporcionada pelo dinheiro, dificultam a entrada dos ricos no reino de Deus. Mas terá o rico sido condenado só por ser rico? E o pobre terá alcançado a salvação só por ser pobre?

Será que, com a parábola, Jesus quereria revelar o que é o céu ou o inferno? Na verdade este tipo de imagens fortes, como o “fogo ardente que não se apaga” (Lc 3, 17), o “ranger de dentes” (Lc 13, 28), um “grande abismo” (Lc 16, 26), as “trevas exteriores” (Mt 22, 13), era bastante usado para elucidar sobre realidades que nos ultrapassam. Porém, contextualizando a passagem, constatamos que, momentos antes, os fariseus avarentos tinham feito troça das palavras de Jesus (Lc 16, 14). Podemos, então, intuir que o que Ele pretendia era lembrar-lhes o projecto que Deus tinha e tem para a humanidade. Os fariseus preocupavam-se em enriquecer, em acumular, em possuir. Diziam até que isso era sinal das bênçãos de Deus. Mas para Jesus, a vontade de Deus Pai é que seja eliminada do mundo a pobreza, a exclusão, e todos os seus filhos vejam respeitados os seus direitos.

Para Jesus o maior problema não é a riqueza em si, mas os riscos que ela traz. Aos riscos enumerados no primeiro parágrafo há que juntar o perigo da omissão, ou seja, fechar os olhos às necessidades dos irmãos. Se a riqueza fosse usada para construir uma sociedade mais justa, então, seria certamente uma bênção de Deus. Se ela é apenas efeito da ganância, da exploração, da desigualdade, afasta-nos do Reino de Deus. É isto que Jesus nos lembra: no projecto de Deus não há lugar para desigualdades! E que dizer das desigualdades do nosso tempo! Deus bem deseja que o Seu reino comece a ser construído já aqui. Quer maior equidade social, melhor justiça, um novo paradigma que vá muito além da mera espiritualidade. Por isso, lembrava Francisco, em Junho passado, na cimeira pan-americana de juízes: “não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade”.

Senhor Jesus, sei que não contas esta parábola para nos aterrorizar, mas para nos desafiares a sermos construtores de um mundo mais justo e fraterno. Faz, pois, o meu coração generoso para com os Lázaros que hoje jazem junto do meu portão. Que o Teu Reino, com o meu empenho, comece aqui e agora!
Amén.