Na segunda parte do evangelho deste Domingo escutamos o último diálogo entre Jesus Ressuscitado e Simão Pedro.

Tudo tinha começado, ali mesmo, uns anos antes, nas margens do mar de Tiberíades, quando Jesus disse a Simão e André: “Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens” (Mt 4, 19). Ali assistiram à tempestade acalmada e viram Jesus andar sobre as águas. Ali fizeram pescas milagrosas e testemunharam a multiplicação dos pães e dos peixes que saciaram multidões. Ali viram curas milagrosas e ouviram sermões extraordinários. E agora, depois da Ressurreição, é também naquele lugar que Jesus questiona Pedro sobre o essencial. Não lhe pergunta se acredita n’Ele, ou se está disposto a fazer muitas coisas! Jesus vai mais longe e, como que libertando Pedro da vergonha das três negações no Sinédrio, por três vezes lhe faz a pergunta radical, que transforma tudo, e exige resposta autêntica: “Tu amas-Me?” (Lc 21, 16).

 
Jesus não pergunta a Pedro se O ama para saber o que ele sente. Jesus bem o conhece. Questiona-o, não para ouvir a sua resposta, mas para que Pedro tenha consciência do essencial: amar! Pois só o amor verdadeiro, pleno, confiante, lhe permitirá concretizar a sua missão à frente da Igreja. Amar a Cristo é o essencial. Tudo o resto virá por acréscimo. O seu testemunho, serviço, evangelização, missão, sofrimentos, e o próprio martírio, só terão sentido à luz deste amor a Cristo. Também a cada um de nós, Jesus nos pergunta se O amamos. Com esta pergunta, como fez a Pedro, também a nós nos lembra que o essencial na nossa vida cristã passa pelo amor a Cristo e aos irmãos. Um amor que, apesar das nossas ‘negações’, nos leva a nos colocarmos nas mãos de Deus, por nos sabermos amado por Ele, mesmo antes de O conhecermos ou amarmos!
 
Hoje, a palavra ‘amor’ talvez tenha perdido um pouco do seu sentido mais profundo, por desvirtuarmos o seu significado mais autêntico. Gastamo-la. Reduzimo-la a um mero ‘gosto’. Ao mesmo tempo que estampamos corações em canecas e t’shirts, envergonhamo-nos de dizer: ‘amo-te’ aos familiares e amigos. Parece até que nos custa dizer às pessoas que amamos o quanto as amamos. E assim, aos poucos, e sem querer, vamos perdendo a beleza e a riqueza da vivência do verdadeiro amor. Amar transforma-nos. Abre-nos aos irmãos. Faz-nos sair de nós. Centra-nos nos outros. Liberta-nos dos egoísmos. Enriquece-nos na diferença. Permite-nos confiar. Leva-nos a desejar que o outro se realize e seja pleno. Amar abre-nos à transcendência. Assemelha-nos a Deus e permite-nos conhecê-l’O, pois, “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1 Jo 4, 8).

Senhor Jesus, tu sabes tudo… bem sabes que te quero amar! Mas também conheces os meus egoísmos, as minhas infidelidades, os meus esquecimentos, enfim, as vezes em que Te nego. Oh, Deus de Amor, não deixes de me amar e de me transformar! Cuida de mim. E dá-me um coração forte e fiel, oblativo e generoso, atento e serviçal como o Teu.
Amén.

*A reflexão feita a partir da segunda parte do evangelho,
texto que não aparece na versão breve.