A parábola do pai que tinha dois filhos, imagem de Deus Pai

e do seu amor misericordioso, tivemos já ocasião de a escutar este ano, no quarto Domingo da Quaresma. Como já tivemos oportunidade de reflectir sobre ela, hoje podemos meditar sobre o conjunto das três parábolas da misericórdia que São Lucas nos apresenta no capítulo 15 do seu evangelho.
O texto começa por descrever a murmuração dos escribas e fariseus (“Este homem acolhe os pecadores e come com eles”) e termina com a murmuração do filho mais velho que se recusa a acolher o irmão e a comer com ele (“esse teu filho”…). Assim, as três parábolas são um apelo à conversão para aqueles que se julgam mais santos que os outros, que com frequência caem no pecado da murmuração e desse modo são um obstáculo ao plano de Deus e à sua mensagem de libertação.
As três parábolas são, além disso, e sobretudo, uma descrição da misericórdia de Deus, de Cristo, e também da Igreja. Sinto-me cada vez mais próximo do modo como os santos dos primeiros séculos da Igreja reflectiam a Palavra de Deus e os seus comentários ajudam-me muito a meditar e rezar. Santo Ambrósio, por exemplo, comentava: “a ajuda da misericórdia divina é-nos oferecida de três modos: por Deus, o pai da última parábola; por Cristo, o pastor da primeira parábola; pela Igreja mãe, a mulher da segunda parábola”. Como é importante, para a nossa vida espiritual, compreender a variedade de formas que Deus inventou para nos fazer experimentar a riqueza da sua graça. A fim de sermos capazes de confessar, como São Paulo, na segunda leitura: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, e eu sou o primeiro deles. Mas alcancei misericórdia”.
O fruto da misericórdia é a alegria. Por isso, ela está presente nas três parábolas: no pastor que recuperou a ovelha perdida, na mulher que encontra a moeda, no Pai misericordioso porque o seu filho “estava morto e voltou à vida”. E de novo um santo, São Gregório Magno, observa que o pastor não diz ‘alegrai-vos com a ovelha perdida’, mas antes “alegrai-vos comigo”. E isso significa que a alegria do Pastor (Cristo) consiste em salvar a nossa vida e trazê-la de volta ao Céu.
Ser “misericordiosos como o Pai”, como sabemos, foi o lema escolhido para o presente Jubileu da Misericórdia. A acompanhá-lo, o logotipo que representa Cristo, o Pastor que carrega aos ombros Adão, a ovelha perdida que somos todos nós. Pode ser útil reler, meditar e contemplar as três parábolas da misericórdia tendo presentes o lema e a imagem. E terminar rezando um hino de uma Igreja católica do Oriente, rezado pelos cristãos no Sábado Santo: “Bom Pastor, para procurar a tua ovelha, abaixaste-Te; foste elevado sobre o madeiro da cruz e de lá viste que se tinha tornado pó. Então, desceste até junto dela, ao lugar dos mortos, e inclinaste-Te sobre o pó. Chamaste-a coma tua voz; ressuscitaste-a, colocaste-a sobre os ombros, e fizeste-a subir contigo ao Céu”.