Desde a Páscoa, a nossa vida não é a mesma coisa. Depois do que aconteceu, nada pode ficar igual. Cristo morreu e ressuscitou e,

com Ele, também nós morremos e ressuscitámos. A Páscoa de Cristo, ou seja, a sua passagem definitiva da morte à vida, torna possível a nossa própria páscoa, a nossa passagem pessoal do pecado à graça, da morte à vida, das trevas à luz.
Nós já morremos. E para ser correctos, nem sequer foi a primeira vez que isto aconteceu. “Sepultados com Ele no Baptismo, foi também com Ele que fostes ressuscitados”, No Baptismo, recorda-nos assim S. Paulo, nós já morremos, fomos sepultados e ressuscitámos. A experiência da vida cristã é a experiência de uma vida pós-morte.
Esta verdade celebrámo-la na noite de Páscoa, na vigilância pascal. Aí recordámos o nosso Baptismo e revivemos a nossa primeira e marcante passagem da morte à vida.
Olhando o apóstolo Pedro, percebemos o que significa fazer esta passagem. Temos ainda na memória as suas três negações, quando hoje a Palavra de Deus já nos apresenta um Pedro novo! Aquele que dissera de Jesus: “não O conheço”, afirma agora “nós comemos e bebemos com Ele”. Já morreu o homem fraco, cobarde, envergonhado e já ressuscitou o homem novo, a testemunha corajosa e alegre de Cristo ressuscitado. Eis, então, o que significa para nós páscoa: dar a morte àquele homem pecador, infiel, fraco e cobarde; e deixar que o Espírito Santo nos faça renascer como pessoas novas, cristãos fortes, testemunhas fiéis de Cristo ressuscitado.
A celebração da Paixão e da Morte de Cristo fez-nos tomar consciência do amor que Deus nos tem, perceber que cada um de nós é um discípulo amado. E é precisamente o discípulo amado, como mostra o evangelho de hoje, o primeiro a acreditar que Cristo ressuscitou: “Viu e acreditou”. O amor do discípulo amado dá-lhe a capacidade para ver o que mais ninguém consegue ver: a presença de Jesus. O amor dá uma capacidade nova de ver e uma alegria contagiante para testemunhar o que se vê.
O amor faz-nos ver e descobrir a presença real de Jesus na nossa vida. Vêmo-lo como aquele que nos fez morrer e ressuscitar com Ele, no nosso Baptismo, e agora, na noite de Páscoa, nos fez passar de novo da morte à vida. A consequência maior desta páscoa para a vida de cada um, vemo-la na história de Pedro, o discípulo triste e traidor que passou a ser a testemunha alegre da ressurreição.
Finalmente voltamos a escutar a segunda leitura, onde S. Paulo diz coisas demasiado importantes para que nos dêmos ao luxo de esquecer: “se ressuscitastes com Cristo… aspirai às coisas do alto… afeiçoai-vos às coisas do alto… porque… Cristo é a vossa vida”. Corre nas nossas veias, desde o Baptismo, o sangue de Cristo, e vivemos, desde então, a sua própria vida. Renascemos em cada Páscoa, para darmos testemunho da vida nova: Aspiramos apenas ao que vale a pena, ao que é eterno, a coisas do alto.