Esta semana a liturgia da palavra convida-nos a reflectir sobre o valor dos bens materiais.

Jesus em nenhum momento desprezou a sua importância. Eles são necessários para a sobrevivência do ser humano e para o desenvolvimento dos povos. Mas trazem consigo um perigo escondido que Jesus expõe: o tornarem-se ídolos que escravizam e aprisionam os seus detentores. Este perigo surge muitas vezes quando chega a hora de repartir heranças. Familiares que até se estimavam, chegam a zangar-se por um simples palmo de terra ou por uma quantia irrisória de dinheiro. E em vez de se dividir a herança, é ela que acaba por dividir as famílias. Foi o que aconteceu no texto evangélico de hoje: alguém pediu a Jesus que intermediasse as partes desavindas num processo de partilha. Talvez Jesus até pudesse resolver rapidamente aquela questão concreta. Mas Ele quis ir à raiz deste problema que afecta tanta gente.

Onde está a raiz das divisões provocadas pelos bens materiais? Jesus di-lo claramente: “Guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens” (Lc 12, 15). A raiz deste problema é a avareza, isto é, o desejo desenfreado de possuir, de acumular, de juntar só para si. E este é um problema que pode afectar tanto os ricos, que desejam ter sempre mais, como os pobres, que correm igualmente o risco de se agarrar desmedidamente ao pouco que têm. É que a pior avareza não é a material, mas a avareza do coração, ou seja, ter um ‘coração de rico’. Um coração assim transforma o dinheiro e os bens em ídolos. Um coração assim não tem espaço para Deus e para os outros. E esquece que não somos donos de nada. Somos simples administradores dos dons e graças de Deus.

Este texto dá-nos a oportunidade de recordar o que, insistentemente, tem dito o Papa Francisco a respeito desta economia e da forma como nos relacionamos com os bens materiais. Naquele que é considerado, por muitos, o texto programático do seu pontificado, a exortação Evangelii Gaudium diz: “Devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata” (EG 53). E acrescenta: “Uma das causas desta situação está na relação estabelecida com o dinheiro, porque aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e as nossas sociedades”. Diz Francisco que na origem da crise financeira, “há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano. Criámos novos ídolos” (EG 55). Livres de toda a avareza possamos nós ser construtores de um mundo mais justo, mais humano, mais atento ao outro e ao cuidado da “Casa Comum”, como refere Francisco na encíclica Laudato Si (13).

Senhor Jesus, livra-me da avareza e da ganância. Torna-me um apaixonado pela criação, pela justiça e pelo bem comum. Se cada um for tomando maior consciência dos perigos da avareza e da necessidade de cuidar com esmero desta ‘Casa comum’ que Deus nos deu para viver, então será possível ir construindo um mundo mais fraterno, imagem do Reino dos Céus.
Amén.