Se acreditamos que os Evangelhos se mantêm actuais, apesar de dois mil anos de história,

o que dizer, então, desta página que hoje escutámos! É como se ouvíssemos continuamente, dia a dia, hora a hora, Jesus perguntar a cada um: ‘E tu, quem dizes que Eu sou?’ É uma interrogação que continua em aberto, sempre à espera da nossa resposta e da resposta de cada um. E é bem possível que tenhamos sempre aquela sensação de que a resposta ainda não está completa. Além disso, será sempre condicionada pelo que somos, pela nossa forma de pensar, pela formação e pela integração que temos, ou não, na comunidade cristã, pelos nossos estados de espírito, pelas circunstâncias da vida, pelo contexto em que vivemos. Esta é a pergunta central da religião cristã, pois contém a razão da nossa fé e o fundamento da nossa vida e acção.

Uma coisa é perguntar ‘Quem é Jesus em si mesmo?’, outra é ‘Quem é Jesus para mim?’. Apesar da primeira pergunta não ter uma resposta simples, é possível responder com algum acerto. Basta responder com os conhecimentos bíblicos, teológicos e doutrinais que a Igreja foi resumindo ao longo dos séculos. A melhor resposta encontramo-la no Credo, e a mais profunda explicação está no Catecismo da Igreja Católica. A verdadeira dificuldade está na segunda pergunta, pois ela supõe uma visão pessoal, uma atitude comprometida, que não se satisfaz com fórmulas pré-fabricadas. Uma resposta autêntica exige absoluta sinceridade de coração e dependerá sempre da fé. Uma fé que seja capaz de captar o mistério de Cristo em toda a sua profundidade e que alimente uma relação pessoal e próxima com Ele.

Jesus não nos questiona apenas para obter de nós uma resposta sobre a sua identidade. Mais do que nos obrigar a perceber quem Ele é, quer fazer-nos pensar na relação que temos com Ele. Pouco adianta ter conhecimentos acerca dele, se eles não nos levam a viver a fé. As pessoas que nos são importantes não são aquelas de quem sabemos coisas, mas aquelas com quem estabelecemos uma relação de amor. Por isso, se queremos dar-lhe uma resposta autêntica, temos de fazer um profundo exame de consciência sobre o lugar que Ele ocupa na nossa vida: será que O procuramos conhecer melhor? Participamos no seu projecto não apenas como quem o segue, mas como quem o testemunha? Ou, pelo contrário, fechámo-lo dentro dos velhos conceitos, esquecemo-lo no nosso dia-a-dia, ainda que lhe reservemos uma hora semanal de uma prática religiosa quase vazia e descontextualizada da vida?

Senhor Jesus, ‘sei que Tu és o Filho de Deus que deu a vida por mim. Quero seguir-te com fidelidade e deixar-me guiar pela tua palavra. Tu me conheces e me amas. Confio-me a ti e ponho a minha vida inteira nas tuas mãos. Quero que sejas a força que me sustenta e a alegria que nunca me abandona’. Amén. 
(Bento XVI)