Entrevista: Tiago David Santos Pereira, ordenado sacerdote no dia 3 de Julho, na Sé Guarda


Tiago David Santos Pereira é natural do Fundão e reside na Orca. No Fundão, estudou na Escola Primária das Tílias, na Escola EB 2/3 Serra da Gardunha e a partir do sexto ano no Seminário do Fundão. Também frequentou o Seminário da Guarda, com as aulas na Escola Secundária da Sé, tendo depois terminado o Secundário em Alpedrinha. Voltou ao Seminário da Guarda para estudar Teologia, em Viseu e em Braga.
A GUARDA: Quem é Tiago Pereira, um dos dois novos sacerdotes da Diocese da Guarda, ordenado no dia 3 de Julho?

Tiago Pereira: Nasci no Fundão numa família com profundas raízes cristãs, originária da Orca e sem a qual não estaria aqui a dar esta entrevista. Aquilo que sou hoje em termos de vivência da Fé devo-o muito ao testemunho da minha família, que fui recebendo ao longo da minha vida. Sou neste momento, um homem agradecido por todos aqueles que se cruzaram comigo ao longo da minha vida e que me ajudaram a chegar a este momento crucial.
Tenho os meus defeitos e fragilidades, como qualquer pessoa. Tenho os meus gostos e passatempos. Gosto de ir ao cinema, sou um aficionado das novas tecnologias, penso que são elas que podem fazer chegar a mensagem de Jesus a muitos jovens, sobretudo nas redes sociais, onde falar de Deus ainda é, para muitos, assunto “proibido” e para outros uma seca.

A GUARDA: Como foi o percurso académico?

Tiago Pereira: Frequentei o Seminário do Fundão, passando posteriormente para o Seminário da Guarda no ensino secundário. Saí do Seminário, voltando mais tarde para o curso de teologia onde estudei no Instituto Superior de Teologia em Viseu, bem como, na Universidade Católica em Braga.
                                                                                      
A GUARDA: Durante a formação passou por vários estabelecimentos de ensino. O que é que mais o marcou ao longo deste tempo de aprendizagem?

Tiago Pereira: Mais do que as matérias que fui apendendo e estudando, o que mais me marcou foi sempre o exemplo e dedicação dos professores com os quais me fui cruzando, quer no início da minha formação quer já no estudo da Teologia.
 
A GUARDA: Numa época em que ser padre não está na moda o que é o motivou a enveredar por este caminho?

Tiago Pereira: O ser padre não pode ser colocado de igual para igual com outra profissão qualquer. Não é um emprego que apenas têm um horário a cumprir e não há obrigações. Pelo contrário, ser padre é a tempo inteiro, é uma vocação e, como tal, exige uma resposta de quem é chamado, a aceitar ou não, seguir Cristo através do sacerdócio ordenado. Sinto que sou chamado a seguir a Cristo desta forma.
Olhando para trás vejo alguns obstáculos, mas também pessoas que Deus colocou no meu caminho para os ultrapassar. Se muitas vezes escutei vozes de gozo por estar no Seminário, também escutei as de alegria por seguir este caminho, um caminho que começou com a minha curiosidade em conhecer o Seminário do Fundão onde um vizinho e amigo meu estava, e do qual me falava de forma entusiasmada.
Sinto que o apoio que tive ao longo deste caminho da parte da minha família é sem dúvida aquilo que falta a muitos para seguir o caminho do sacerdócio ordenado. Temos cada vez mais famílias desestruturadas, sem oração e sem vontade de um compromisso cristão forte e sem isso não esperemos ver o número de sacerdotes aumentar, antes pelo contrário, têm vindo a diminuir de ano para ano.

A GUARDA: Desde que terminou a formação académica como tem sido a sua actividade pastoral?

Tiago Pereira: Estive alguns anos em atividade pastoral auxiliando o reverendo padre Válter Duarte na paróquia de Alpedrinha, Atalaia do Campo, Soalheira, Louriçal do Campo e Castelo Novo, das quais ainda hoje guardo boas memórias.
Mais recentemente, desde Setembro passado, fui nomeado pelo nosso bispo D. Manuel Felício, para auxiliar e colaborar pastoralmente com o reverendo Padre André Roque nas paróquias que lhe estão confiadas, nomeadamente em São Jorge da Beira onde resido, capelania da Barroca Grande, Aldeia de São Francisco de Assis, Silvares, Lavacolhos, Barroca do Zêzere, Bogas de Cima, Janeiro de Cima e Bogas de Baixo.

A GUARDA: O que é que mais o tem marcado nas comunidades em que está a colaborar, nomeadamente na envolvência dos mais jovens na vida das paróquias?

Tiago Pereira: Sem dúvida a afabilidade a bondade e a simplicidade da vivencia da fé de muitas destas comunidades têm marcado este último ano de ação pastoral, rico em atividades pastorais, que passa muito além das celebrações litúrgicas, que implica estar com as pessoas com tempo e sem pressa, conhecê-las e escutá-las, para poder fazer um melhor trabalho pastoral.
Quanto aos jovens destas comunidades, que na sua maioria são aldeias, acontece aquilo que é típico das nossas aldeias com cada vez menos jovens, mesmo assim tenho assistido a uma participação positiva dos nossos jovens na vida paroquial, e mais do que participar, nota-se a alegria em colaborar, que não é forçada, mas espontânea, algo que infelizmente não se vê muito nos jovens dos nossos dias.
 
A GUARDA: Com a diminuição drástica do número de seminaristas e sacerdotes como olha para o futuro da Diocese da Guarda?

Tiago Pereira: Olho para o futuro com preocupação, mas também com esperança. Se por um lado vamos tendo cada vez menos seminaristas e sacerdotes, temos de ver este momento também como uma oportunidade criar comunidades para o futuro, onde não existe sempre a celebração da Eucaristia, mas onde pode sempre existir uma Igreja, uma assembleia reunida para celebrar o dia do Senhor, implicando para isso uma maior colaboração dentro das comunidades, menos dependência da presença do sacerdote para celebrar a fé, o que não quer dizer que sê dê menos valor à eucaristia, mas sim que é possível adaptar as comunidades à falta de sacerdotes e perder de vez a mentalidade que já tenho assistido algumas vezes “ o senhor padre que faça”, levando as assembleias a uma participação nas celebrações muitas vezes estéreis.
 
A GUARDA: Como padre, quais os projetos que gostaria de concretizar?

Tiago Pereira: O sonho que tenho e tenho pedido a Deus que me dê forças e auxilie, é simples e ao mesmo tempo difícil, porque não depende de mim, que é ajudar a todos aqueles que vou encontrando no caminho da vida a aproximar-se cada vez mais de Jesus e do caminho que leva até Ele. Se em cada dia puder fazer isto, sentir-me-ei realizado e que estarei a ser fiel ao ministério que recebi.
Na minha curta experiência pastoral, sinto que não vale a pena ter grandes projetos pastorais se depois o resultado final não ajudar os fiéis a aproximaram-se mais de Jesus e a viverem a Fé de uma forma autêntica e um amor mais profundo por Jesus e pelos irmãos.