Vivemos em todo o mundo, mas de forma ainda mais preocupante em Portugal,

momentos de especial apreensão pelo facto de a vida humana estar em redobrado perigo e correr elevados riscos.E isto, pela ameaça da pandemia que está a causar entre nós número de mortes até há pouco impensáveis, com centenas diárias, nos últimos dias e num deles a ultrapassar as três centenas.E também porque a aprovação da lei da eutanásia, na Assembleia da República, há poucos dias, deixa a vida humana mais desprotegida, em Portugal. E não nos iludam, dizendo que esta lei respeita mais a liberdade individual. De facto, não é assim, pois, ainda que o nosso país seja dos poucos que, na Europa, aprovaram esta legislação,  tendo em conta o que nesses países se está a passar,  a vida das pessoas fica sem a proteção que a sociedade, através da lei, lhe deve prestar e sujeita a toda a espécie de arbitrariedades.Todos sabemos que, em situações especialmente difíceis, os momentos de solidão e angústia são por si mesmos maus conselheiros. Se não, vejamos o que se está a passar com os efeitos do confinamento prolongado, através da Europa, por causa da pandemia. Estão a aumentar as doenças mentais e a procura do suicídio, o que é muito preocupante pelo que significam de desvalorização da vida humana.Por isso, compreende-se a indignação dos Bispos portugueses, perante a insensibilidade da maioria dos deputados à Assembleia da República quanto a este assunto, ao dizerem: “Não podemos aceitar que a morte provocada seja resposta à doença e ao sofrimento. Aceitar que o seja é desistir de combater e aliviar o sofrimento e veicular a ideia errada de que a vida marcada pela doença e pelo sofrimento deixa de merecer proteção e se torna um peso para o próprio, para os que o rodeiam, para os serviços de saúde e para a sociedade no seu todo. Não podemos nunca desistir de combater e aliviar o sofrimento, físico, psicológico ou existencial, e aceitar que a morte provocada seja resposta para essas situações. A resposta à doença e ao sofrimento deverá ser, antes, a proteção da vida sobretudo quando ela é mais frágil por todos os meios e, nomeadamente pelo acesso aos cuidados paliativos, de que a maioria da população portuguesa está ainda privada”.Esta hora de pandemia e com a perspetiva de termos de vir a conviver com uma lei que não cumpre o dever de proteger a vida dos mais fracos e vulneráveis, obriga-nos a fortalecer o dever de cuidarmos uns dos outros, para não deixar ninguém sozinho, particularmente nos momentos mais difíceis e dolorosos. A solidão e o abandono degradam a vida das pessoas e, sobretudo quando acompanhados de sofrimento mais intenso, nunca são momentos propícios para tomar as melhores decisões.De facto, a lei da eutanásia deixa as pessoas mais abandonadas, o que tem de implicar uma responsabilidade acrescida de todos nós, no acompanha­mento e cuidado que devemos uns aos outros, particularmente se confron­tados com situações de maior sofrimento e angústia, incluindo o risco de desespero.30.1.2021+Manuel R. Felício, Bispo da Guarda