Homília da Missa da Solenidade do Natal do Jesus


“Precisamos de criar condições para que todos tenham lugar digno na vida social e haja uma distribuição mais justa tanto dos encargos como dos benefícios”, disse o Bispo da Guarda, na Homilia da Missa da meia-noite, na Solenidade do Natal do Jesus. D. Manuel Felício considerou que, “para isso, tem de haver políticas de emprego – que ainda não temos – capazes de nos fazer progredir rumo ao grande e desejado objectivo da plena inclusão social”. Adiantou também que “mesmo não sendo possível oferecer empregos estáveis a todos, que todos tenham as necessárias condições para tomar as suas próprias iniciativas em actividades variadas que garantam a sustentação do próprio e o progresso da comunidade”. Lamentou o facto de não serem estas as preocupações debatidas em “fóruns” mundiais, dando como exemplo o que aconteceu na COP 25, realizada em Madrid no mês de Dezembro, de 2019.
No entender do Bispo da Guarda “faltou coragem aos 196 países ali representados para tomarem as decisões que o bem comum das pessoas e do próprio planeta exigem e deixaram que interesses de grupos e de multinacionais se infiltrassem nas suas decisões”.
Referiu ainda que “o mesmo já tinha acontecido, infelizmente, aquando do Sínodo para a Amazónia”, realizado em Outubro de 2019, que pretendeu “traçar novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. D. Manuel Felício adiantou que “os interesses instalados naquele território não aceitaram as recomendações do documento final, com evidente prejuízo para o bem comum de toda a humanidade e do planeta enquanto tal”.
Na noite em que a Igreja celebra o nascimento de Jesus, o Prelado considerou que a lição do presépio “há-de ajudar a purificar muitas das decisões políticas que se tomam no mundo e no nosso país”. Considerou que os decisores políticos “têm de se regular sempre pela transparência e o sentido do bem comum” para acabar com os “casos de corrupção”. Neste ponto lembrou o relatório internacional tornado público em Junho de 2019 que “aponta o dedo” a Portugal “por não estar a fazer os progressos devidos, no combate à corrupção” de vido ao “mau desempenho” sobretudo dos deputados, juízes e magistrados.
D. Manuel Felício considerou ainda que atingir “a desejada meta da plena inclusão social” é outra das lições a tirar do presépio.
Com base nos dados avançados pelo observatório da rede europeia contra a pobreza (ENAP) onde é referido que “pelo menos 1/5 da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza”, o prelado considerou que “este objectivo parece estar longe de ser alcançado”.
“Nesta noite de Natal voltemo-nos para o presépio e aprendamos a lição daquele Menino, que, sendo rico, se fez pobre para dar a mão aos pobres do mundo inteiro”, pediu o Bispo da Guarda.
D. Manuel Felício terminou a homília desejando “Boas Festas e Santo Natal”, aos muitos fiéis presentes na Sé Catedral da Guarda.