O Evangelho de hoje começa com o desejo de ver e termina com a promessa de ser atraídos. Inicia com um grupo de pessoas que querem ver e encontrar Jesus: “Nós queríamos ver Jesus”. Conclui com a promessa de atrair todos para Ele: “Quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim”.


Entre a vontade de O ver e a promessa de nos atrair a Si, está a palavra de Jesus que fala de um momento especial (“chegou a hora”), o momento da sua morte e ressurreição. Para dizer o significado do mistério central da nossa fé, o Mistério Pascal, Jesus serve-se de uma imagem: o grão de trigo.
Mesmo não sendo peritos em agricultura, sabemos que o grão de trigo (como qualquer outra semente) para vir a dar fruto, tem primeiro de ser colocado na terra. Então morre para mais tarde renascer, assumir uma forma nova, ser transformado em espiga e dar fruto.
Ser lançado à terra, morrer e “ressuscitar” é a história do grão de trigo que se confia às mãos do agricultor. É a história de Cristo, enviado à terra pelas mãos do Pai; as suas palavras e acções são sementes à procura de terra boa; por fim, quando chega a hora, entrega a vida, aceita morrer, ressuscita, é levantado da terra e dá fruto: a nossa salvação, a vida eterna.
Pensando um pouco, vemos que o fruto do grão de trigo são mais grãos de trigo. No fundo, é um grão que se multiplica. E o fruto torna-se, por sua vez, semente. Ou é transformado em pão. Seja como for, moído ou semeado, o grão de trigo existe para morrer, e morre para dar vida.
Se o grão de trigo tivesse fé e capacidade de amar, saberia que vale a pena morrer para si próprio pois essa é a condição para viver eternamente e ser fonte de vida para os outros.   
Dizia um santo que a “a glória de Deus é o homem vivo”. A glória, a alegria e a vontade de Deus é que nós vivamos, e vivamos eternamente, com Ele. É a mesma vontade de Jesus: “Quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim”. Levantado da terra e sentado à direita do Pai, no Céu, para aí nos atrai, com a única força que tem, a força do amor, demonstrada na sua morte e ressurreição.
Se queremos, como os gregos do evangelho, ver Jesus, deixemos que Ele se faça ver e nos faça ver e acreditar que só vale a pena viver quando damos a vida, quando nos sacrificamos, quando morremos para nós próprios, a fim de darmos fruto. Só vivemos quando nos unimos aos outros grãos de trigo, na espiga que é a Igreja, a fim de nos deixarmos semear para renascer, de nos deixamos moer para ser pão, pão transformado em Corpo, na Eucaristia, Corpo entregue pela vida do mundo.