No domingo transacto, envolvido num entusiasmo desusado de uma extraordinária multidão,

que enchia a Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco proclamava a santidade heróica da Irmã Teresa de Calcutá que grande parte do povo católico havia já canonizado no seu coração.
Nasceu a 26 de Agosto de 1910. Sua mãe, mulher de uma personalidade forte e inflexível, humilde e generosa, amante dos pobres e ornada de uma profunda religiosidade, olhou com esmero pelos três filhos dos cinco que o Senhor lhe dera. Educava-os mais com o exemplo do que com palavras ou conselhos. Metódica e cumpridora da disciplina, não esquecia de reunir a família todas as noites, para a oração que, no mês de Maio, consistia em ir à igreja para rezar o terço e receber a bênção do Santíssimo. Aos doze anos, influenciada pelo pároco que era jesuíta, Inês, este era o nome de baptismo, começou a sentir, dentro de si, o desejo de se entregar totalmente a Deus para realizar também aquelas gestas e feitos que convertiam à fé os pagãos.
Para além daquelas narrativas escutadas ou lidas, ouvia ainda o pai que lhe contava, no regresso de suas viagens por outros países, tantas coisas que lhe alargavam o coração.
Numa visita ao santuário de Nossa Senhora de Letnice, um centro de devoção da sua zona, a própria Gonxha, era assim o seu nome de jovem, confessa que sentiu aí o chamamento divino que a convenceu a entregar-se totalmente a Deus.
Só decorridos seis anos comunicou ao pároco o seu desejo, numa tarde em que o foi visitar acompanhada pela mãe.
Os dias corriam espaçados e lentos. Por fim, chegou o momento de partir para Zagreb donde já acompanhada por outra candidata às missões da Índia partiu para Dublin. Aí permaneceu dois meses, a aprender sobretudo o inglês, língua já então muito conhecida sobretudo no Oriente.
A 25 de Maio de 1931, fez os votos religiosos, depois de um noviciado muito pacífico. Com esta profissão, Teresa, já com este nome, ficou a pertencer juridicamente ao Instituto das Irmãs de Loreto. Em Maio de 1937, já com votos perpétuos, foi nomeada professora de um Colégio chamado das Damas Irlandesas.
A 10 de Setembro de 1946, enquanto viajava num comboio que a conduzia, em lentidão, para Sarjeeling, onde as freiras de Loreto costumavam fazer o retiro de oito dias, pressentiu, no seu íntimo, o chamamento de Deus a fim de caminhar para as terras de missão.
Depois de haver pedido à Cúria Romana a exclaustração experimental, enquanto não se confirmava, no seu íntimo, este propósito, procuraria perceber se a sua saúde suportaria outros climas e formas diferentes de viver.
Regressada que foi a Loreto, a 16 de Agosto de 1948 abandonou o seu primeiro convento, apenas com uma pequena maleta e cinco rupias. Como encontrasse na rua, uma pobre pedinte, deu-lhe quatro rupias. Mais à frente, um sacerdote estende-lhe uma caixa mealheiro, dizendo-lhe: a irmã não quer colaborar também com uma pequena oferta em favor da boa imprensa? Sem poder resistir ao pedido entregou-lhe a última moeda.
Prosseguiu a viagem entregue à misericórdia divina até chegar exausta ao seu destino. Para ser útil naquele ambiente, tirou um curso acelerado de enfermagem em ordem a primeiros socorros.
Começou a dar aulas, sob uma árvore, a um grupo de crianças abandonadas e, enquanto não arranjou casa para viver, acolheu-se como hóspede num lar para velhos. Aí aprendia como era o ambiente e a forma de tratar os pobrezinhos.
Um dia, o padre Henry foi levar a comunhão à mãe de Michel Gomes, um funcionário católico de origem portuguesa de quem era amigo. Como era amigo, meteu conversa e lembrou-se de lhe perguntar se conhecia algum quarto livre para uma freira de Loreto que saíra do convento para se dedicar exclusivamente aos pobres.
Ora em Loreto estudava a sua filha que lhe tinha já falado no caso de uma das suas melhores professoras querer abandonar o ensino para se dedicar totalmente aos pobres. Essa filha havia-lhe dito: “Papá, não achas que a parte de cima da nossa casa que não tem ninguém, poderia servir para o que o padre Henry procura?” Para ali foi viver a Irmã Teresa que aí começou a sua dedicação total aos pobres. A 19 de Março, festa de S. José, bateu-lhe à porta uma das suas melhores alunas, Subashini Das: “Madre, se me admitisse aqui gostaria de servir consigo os pobres”.
E vieram mais e mais outras. Assim, passados dois anos, se inaugurou a Comunidade das Missionárias da Caridade...