Foi entusiasmo admirável, apesar da chuva e do tempo agreste que se fizeram sentir, na Cova da Iria,

o início do prelúdio para a celebração do primeiro centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima. Entretanto, pouco se recordou a preparação feita pelo Céu que está agora a realizar um século.
A Irmã Lúcia, no livro ‘Apelos da Mensagem de Fátima’, vai recordando como o Céu foi preparando os pastorinhos da Cova da Iria para o importante e precioso evento a efectivar-se em 1917.
“Devia ser pelos anos 1914 e 1915,- escreve a mais velha dos videntes, - logo que comecei a pastorear o pequeno rebanho pertencente a meus pais e na companhia de outras meninas da terra, quando fomos surpreendidas por uma aparição que não soubemos definir”. E vai contando que viram uma nuvenzinha branca com forma humana que tinha descido do firmamento. Quando narrava esta aparição, já depois de atingir a adolescência, ainda não tinha a certeza do significado desta visão assistida também por outras meninas que andavam com ela.
Tempos depois, com certeza na primavera de 1916, quando se encontravam juntos apenas os três pastorinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta, no Cabeço, onde se abrigaram para se defenderem de uma chuva miudinha, numa espécie de gruta, viram um clarão a chegar do nascente. Era um anjo que lhes disse: “Não temais. Sou o Anjo da Paz, orai comigo”. Ajoelhado e curvado até ao chão, dizia: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos, peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam”. Depois de ter rezado esta prece, umas poucas de vezes, pediu: “Orai assim. Os corações de Jesus e Maria estão atentos às vossas súplicas”.
Chegado o verão, no quintal da Lúcia, sob as árvores que ensombravam o poço, o Anjo voltou, dizendo: “Que fazeis? Orai! Orai muito! Os corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios”.
Lúcia interveio: “Como nos havemos de sacrificar?”.
“De tudo o que puderdes, oferecei um sacrifício ao Senhor em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a nossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar”.
Passados três meses, correria outubro, na encosta do Cabeço, são visitados pelo Anjo que trazia na mão um Cálice sobre o qual reluzia uma Hóstia branca da qual caíam algumas gotas de Sangue. Prostrou-se por terra, deixando suspenso no ar a Hóstia e o Cálice.
Humilhado até ao chão, rezou: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.
Levantando-se, tomou o cálice, segurando a hóstia, deu-a a comungar à Lúcia e depois deu a beber do cálice aos dois companheiros, dizendo: “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo e consolai o vosso Deus”.
Adorando de novo, repetiu a súplica à Trindade Santíssima e voltou para o céu.
Tais acontecimentos tocaram o espírito destas três crianças cuja forma de viver se foi transformando, crescendo no espírito de oração, no domínio de si mesmas, na caridade para com os outros e na obediência aos pais. As orações ensinadas pelo Anjo jamais foram esquecidas porque repetidas muitas vezes, ao longo do dia.
Assim, quando em 1917, começaram as aparições da Cova da Iria, os pastorinhos já um pouco preparados pelas aparições do Anjo, receberam, com serenidade e inteligência, a mensagem celeste.
A vivência de um centenário das aparições do Anjo certamente nos ajudaria a aproveitar melhor as comemorações centenárias da mensagem da Cova da Iria.
Muito temos a aprender com as orações e ensinamentos indicados pelo Anjo de Portugal.
Quando alguém começa a embrenhar-se no verdadeiro espírito de piedade, torna-se mais facilmente seguidor das coisas de Deus.