A vida em comum, quer na intimidade da casa quer no relacionamento público e social,

para os membros da família tem a sua sem-cerimónia pronta e espontânea que lhe confere um tom diferente da relação mais cortês entre pessoas menos congraçadas e com menos confiança recíproca.
Assim, neste ambiente, não costumamos usar termos mui cerimoniosos, mas adoptamos palavras mais expontâneas e simples. É no à-vontade da confiança recíproca onde se vai notando a naturalidade própria da convivência. Também, por isso o nosso vocabulário não é demasiado escolhido e as regras de etiqueta nem sempre são observadas.
Como tudo traz os seus inconvenientes, também esta singeleza acarreta atrás de si, na espontaneidade usual, sentimentos interiores nem sempre muito bons logo manifestados sem grande civismo. Daqui, o haver destemperos, falhas de delicadeza, más palavras que vulgarmente não se usam porque consideradas inestéticas e deselegantes.
Ora, na família necessário se torna que estejamos com liberdade de expressão mas também com delicadeza e polidez, para não deixar enfurecer os ânimos e cair em faltas de educação.
Tendo referido já este assunto, o Papa Francisco, no dia 13 de Maio, voltou ao discurso, de uma forma mais incisiva, e foi estendendo o seu pensar, afirmando serem as três expressões ‘com licença’, ‘obrigado’, ‘desculpa’ palavras que protegem o lar, até no meio de múltiplas dificuldades e conflitos.
Para não parecer estar a propor um assunto de aula pragmática de etiqueta, Sua Santidade aventura-se a citar a máxima de um santo, Francisco de Sales, cuja delicadeza e compostura ficaram célebres na história: “a boa educação já é meia santidade”.
De facto, o domínio perfeito dos nervos mesmo os miudinhos, de expressões tanto gestuais  como pronunciadas, revela-nos a força interior que pode travar ou deter a ira, o azedume, o despeito, a fúria ou a zanga nascidos dos ímpetos enfurecidos que podem iniciar uma tragédia.
Não é que as maneiras exteriores não possam esconder frequentes maus hábitos e reacções grosseiras e reles, mas o bom comportamento vai revelando a forma elegante e distinta, quando ela é sólida.
E o Papa vai explicando que o uso frequente da palavra com ‘licença’ nos ajudará a fomentar, em casa, convivência agradável e atenciosa, mesmo delicada, que renovará constantemente a confiança e a estima. E esclarece: “Quanto mais íntimo e profundo for o amor, tanto mais exigirá o respeito pela liberdade e a capacidade de esperar que o outro abra a porta do seu coração”.
Do mesmo modo comenta que a segunda palavra, ‘obrigado’, após haver argumentado que estamos a tornar-nos uma civilização malcriada, se deve usar, com frequência, para significarmos a veneração e reverência que temos pelas pessoas principalmente da nossa casa e família, pelo geral a que mais amamos e favorecemos.
A gratidão é um terno e esplêndido sentimento que vai revelando a compreensão de uma alma agradecida e humilde; grata porque sente o bem recebido e humilde porque sabe aceitar os obséquios dos outros e lhes presta a devida estima e veneração.
‘Difícil e deveras necessário’ classifica o Santo Padre o gesto e a maneira de pedir desculpa, quando, por nossa imperfeição e fragilidade, faltámos à atenção e ao apreço devidos a outrém. Será atitude de humildade, tão difícil por vezes, e de afectuosa admiração perante a quem tratámos com menos elegância e deferência.
Com estas palavras se fazem as pazes, se faz crescer a estima e se tiram do nosso relacionamento tantos obstáculos que se não forem arrancados a tempo, podem tornar-se fortes e resistentes.
A boa educação para além do relacionamento cristão, amoroso e afável, com uma longa observância vai-nos ensinando a vivência das regras de educação e acarreta-nos a paz que tantas vezes o nosso orgulho vai impedindo.
Ciente disso, o Papa, como bom pedagogo, termina a sua explicação, com este pedido: “E agora convido-vos a repetir todos juntos estas três palavras: ‘com licença’, ‘obrigado’,  ‘desculpa’. São as três palavras para entrar no amor da família, para que ela vá em frente e permaneça tal”.