Sobretudo no Império Romano, os povos desejavam ter junto deles os seus defuntos para recordarem a sua memória e continuarem

o seu viver na sua companhia. Muitas vezes faziam banquetes ao pé de seus túmulos para prosseguirem na lembrança dos seus antepassados. Isto praticava-se sobretudo nos períodos em que se ofereciam sacrifícios por eles.

Longe de afastar tais hábitos, a fé dos primeiros cristãos, recordando a verdade da ressurreição, consolidavam junto dos cadáveres da família a sua esperança de um dia os poderem ver de novo.
Assim percebemos a razão de, ainda nos tempos apostólicos, se erguerem jazigos sepulcrais para a família aumentada pelos irmãos nascidos nas água do baptismo.
O mistério da morte perturbou a humanidade ao longo dos séculos. Mas os crentes conservavam o nome dos antepassados, através das inscrições colocadas nos túmulos dos seus. Deste modo, civilizações houve cuja história ia guardando as lembranças de tantos que apenas os túmulos conservava. E quanto mistério ainda se esconde nas campas e nos sepulcros!
Já que a morte envolve o homem na escuridão do desconhecido depois de o arrancar à convivência de familiares e amigos, nada de admirar que se ergam monumentos sumptuosos ou rudimentares para lembrar os defuntos, uma vez que se deseja continuar a sua presença.
Também nas cerimónias religiosas se prolongaram, por toda a parte, por muitos e variados modos, as memórias ou anelos da perpetuidade de tantos amigos e conhecidos.
Os cemitérios bem no-lo comprovam através das frequentes caminhadas para estes oásis de paz, a atestar-nos que hoje mesmo os sentimentos da humanidade continuam, como há séculos atrás.
Na religião cristã, nas mesmas práticas litúrgicas, este sentido universal que se manifesta nos gestos fúnebres, sobretudo nos costumes bem comuns nos hábitos do mês de novembro. As visitas aos cemitérios, os arranjos e ornamentações das campas, as orações habituais nos templos e em famílias bem no-lo testemunham.
Estas práticas não despontaram hoje. Vemo-las, em toda a parte, desde os começos da Igreja, não apenas na veneração dos túmulos dos mártires ornados com monumentos mas sobretudo nas preces e cânticos que se foram adaptando às diferentes épocas e se fixaram nos livros litúrgicos.
Nos últimos tempos, formularam-se regras diversas para venerar os mortos, adaptando-se o memorial antigo de cada lugar ou tradição. Há no entanto ritos com mais de um milénio.
Assim o costume de celebrar os fiéis defuntos, no dia 2 de novembro, ficou definitivamente fixo em 998 pela influência do mosteiro de Cluny, governado então pelo célebre abade Santo Odilão. Publicou este um decreto para todos os mosteiros dele dependentes, que já somavam várias centenas dispersos pela França, Espanha, Itália.
Com a preponderância que os beneditinos tinham sobre as populações cristãs, rapidamente se espalharam pelas dioceses e paróquias da Igreja Ocidental, nas zonas onde o costume de celebrar anualmente a memória de todos os defuntos, fácil se tornou lei.
Em Roma, o Papa, terminadas as vésperas do ofício de Todos os Santos, tomava de novo a sua capa escarlate e o camauro com a mitra branca. De imediato, os cantores entoavam as vésperas dos defuntos, findas as quais começavam as matinas ou Ofício de Leitura. No dia seguinte, o Pontífice oferecia a missa pelas benditas almas.
O costume de hoje de cada padre celebrar três missas pelos defuntos foi instituído por Bento XV, alargando o privilégio dado por Bento XIV aos estados dependentes do Rei Católico de Espanha. A razão invocada pelo Papa era dupla: a quantidade mortes sucedidas na primeira grande guerra, depois, o facto de haverem confiscado os bens às igrejas que tinham como encargo o dever de celebrar algumas missas por ano pelos seus benfeitores. Deste modo, muitos cristãos se lembram que devem também ir recordar os seus diante de Deus.