Havia de preparar-se o ambiente para que Deus viesse ao mundo comunicar com os homens. O Filho de Deus Pai, três vezes santo nasceria da Virgem Puríssima e ofertar-nos-ia o contacto com o Altíssimo Senhor, tornando-Se humano, isto é, colocando a divindade na esfera e periferia da colectividade humana.


Era preciso que o homem adquirisse costumes, hábitos, modos e comportamentos divinos. Como a formação para tanto seria lenta, pois se aperfeiçoaria a terra aos poucos, Deus não improvisou este acontecimento de graça e transformação, mas preparou-o longamente, não apenas no interior de cada um, alargando a sua inteligência e fortificando a sua vontade, como ainda no conjunto de uma sociedade, modelando um povo, em ordem à sua chegada.
Ora o anúncio de um facto não é o seu cumprimento. Uma coisa é o recado, outra a realidade efectiva. Um escritor dos primeiros tempos do cristianismo, Ireneu, escrevia, para se referir ao nascimento de Jesus: “A vinda de um rei é anunciada aos súbditos, a fim de se prepararem para recebê-lo. Mas quando chega o próprio rei e todos gozam da alegria anunciada, da liberdade que ele traz, quando o vêem, ouvem as suas palavras e experimentam os seus dons, que homem sensato perguntaria ainda o que há de novo em relação ao que foi somente prognosticado?”
Mais proximamente a promessa divina é feita a Abraão, fixando-se em três acções: a introdução do seu povo na terra de Canaã; a promessa de que o Salvador nasceria na sua raça; e a profecia de que todas as nações se reuniriam à sua descendência.
Este compromisso não é exactamente o primeiro. Logo após a queda do paraíso terreal, anunciado o castigo da morte, veio a palavra consoladora, sob a capa do castigo ao tentador: “Porei inimizades entre ti e a mulher, a tua descendência e a dela e esta descendência te esmagará a cabeça”.
E também após o dilúvio, outro sinal é dado a Noé:  “Eu vou instituir a minha aliança convosco, com a vossa descendência depois de vós e com todos os seres vivos que estão convosco: não haverá mais dilúvio para devastar a terra”.
À sua palavra o Senhor jamais será infiel. Pode o homem ser desleal, mas Ele, não. Continuará responsável  ao prometido e auxiliará a humanidade a predispor-se para a aliança eterna.
Vem, pois, Abraão e com ele a unidade a um povo que dele vai nascer ao qual Deus oferece a sua Aliança. Os compromissos vão-se estreitando à medida dos tempos seguintes, sem ser necessária a correspondência do homem, pois basta a bondade amorosa do Eterno.
A história da educação religiosa de Israel e, por ele, da humanidade é toda a narrativa do Antigo Testamento, onde se desenrolam acontecimentos misteriosos tanto em palavras como em obras, a par de infidelidades e traições humanas.
“Deixa a tua terra, a tua família, a casa de teu pai. Em ti abençoarei todas as famílias do mundo” - assim principia o monoteísmo.
“Há um só Deus” – será o fundamento do povo escolhido, fundado numa fé bem diferente dos outros povos. Já não é da inteligência que sai a motivação do pensar dos homens, mas sim da palavra de Deus recebida na obediência à voz do Alto. “Em ti serão abençoadas todas as nações”- é persuasão do pai dos crentes e ainda dos fiéis hodiernos.
Claro que aparecem obstáculos, Sara, sua mulher é estéril, mas Abraão entrega-se à declaração de Deus e espera.
O desenrolar dos tempos aproxima-nos de Moisés cuja vocação Deus ditou. Ele, no Sinai, estabeleceu a aliança sobre o fundamento da Lei clara e precisa, a recordar continuamente na liturgia sempre renovada e rejuvenescida pela repetição da Palavra quer diária, em família, quer semanal, em comunidade da sinagoga ou ainda no templo, onde se celebravam as liturgias, com maior solenidade: na Páscoa, a lembrar a saída do Egipto, na festa das Semanas ou Pentecostes, quando se iniciam as ceifas da cevada, a colocar no coração de Israel a Lei recebida no Sinai, e na solenidade das Tendas, na época das colheitas, sobretudo do vinho, a lembrar os benefícios concedidos por Deus, nesse ano que findava.
Para além da memória de profetas e reis, guerreiros e governantes, acontecimentos históricos felizes ou mesmo calamitosos, o Advento celebra sobretudo celebridades do final do Antigo Testamento, mormente S. João Baptista, o percursor de Cristo, e Maria, a mãe virginal do Messias.
Estas últimas figuras estão inundadas de alegria e estremecem de júbilo, na medida que se vão apercebendo da grandeza dos acontecimentos nelas e por elas realizados. São os grandes modelos que preanunciam e vivem a felicidade inaudita da chegada humilde mas também gloriosa para a humanidade, pela salvação que nos traz.
Começa, no Natal, o sentido da continuidade do Advento, a chegada do Salvador, luz  para todos os homens e glória de Israel.
Assim, se deve aprofundar, nestes dias de tanta ignorância religiosa, o sentido da fé, em ordem às sendas missionárias apontadas por Cristo, quando terminava a sua passagem pela terra: “Ide por todo o mundo, anunciai o Evangelho a todos os povos, baptizai as pessoas em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Eu estarei convosco até ao fim dos tempos”.
Esta comemoração do Advento repleta de esperança e entusiasmo impulsiona o povo cristão a olhar para as gentes privadas ainda das alegrias salvíficas, com o intuito de reduplicar esforços, para lhes oferecer a alegria dos frutos da incarnação.
O Advento prepara-nos para o dever de anunciarmos Jesus, vivendo e proclamando a fé no Verbo que Se faz carne por nosso amor.