Quando se vive num tempo de ilustração e saber, fácil se torna aspirar por maiores e mais vastos conhecimentos tanto práticos como artísticos,

filosóficos ou científicos, históricos e mesmo actuais, tanto quanto a inteligência pode alcançar. O homem do saber cria, hoje, à sua volta, não apenas atracção e influência, interesse e simpatia como ainda vantagens e benefícios, sem falar no progresso nascido de sua erudição.
Não admira que a sede de maiores esclarecimentos esteja a interessar grande quantidade de pessoas atraídas pelo gosto de possuir uma boa cultura e um vasto saber.
É por isso que tantos aproveitam mesmo o tempo de férias para irem aqui e além, olhar as coisas antigas e modernas, saboreá-las e retê-las, ficando deste modo mais instruídos e letrados. Como o factor religioso abrange tempos e civilizações, colorindo estas com suas crenças e costumes, a derramarem-se em artes variadas não apenas de arquitectura e estatuária, de ambientes múltiplos e diversas feições de viver, nestes nossos dias, começam a visitar-se locais pitorescos e repletos de memórias, a revelarem praxes e saberes, hábitos e usanças antigos reveladores de mistérios de épocas bem longínquas.
O fenómeno não moderno, pois dispomos de bastantes testemunhos históricas a ilustrar-nos até mudanças de atitudes e posturas de vida de muitos que contemplaram obras artísticas e nelas adoptaram outros pensamentos e, por isso, modificaram sua vida e conduta.
Isto não tão somente no ritmo diário do seu proceder mas ainda nas atitudes íntimas do seu mundo interior, uma vez que todos possuímos alma espiritual.
É bem conhecida a transformação de Teresa de Ávila que, por olhar o rosto doloroso de Cristo coroado de espinhos, largou o enfado da sua vida ascética para começar o esforço do seu aperfeiçoamento na caridade. Não indiquemos Agostinho de Hipona, Inácio de Loiola atraídos por um mundo novo, ao encontrarem, nas leituras, novas regras de viver, nem lembremos quantos fixando as expressões de muitas imagens em cujos rostos descobriram atitudes de paz e de bondade, foram seduzidos por seus exemplos. Quantos, na história da Igreja, se deixaram tocar pelo misticismo envolvente de muitos templos ou foram arrastados por considerações íntimas provocadas por lembranças de gente amiga e crente, ao visitar os seus túmulos?
Não é comovente a multidão orante que enche praças ou santuários a derramar sobre tantos irmãos a expressão da sua fé? Para muitos desabituados de rezar a vista comovente e transformadora de suas vidas nasceu de rostos compassivos de ícones cuja atitude nem compreendiam.
A arte é um dos meios de transmitir a fé como a pregação e a leitura bíblica, desde que os seus autores consigam comunicar por ela o sentido do transcendente e do inefável cujos matizes e sinais também podem transparecer de uma forma sublime.
O Concílio Vaticano II exprime o intercâmbio da teologia fundamental e o culto quer de imagens quer das cerimónias cumpridas pelo povo cristão na sua liturgia deste modo: “A Igreja , na sua doutrina, na sua vida e no seu culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que é e tudo o que crê”.
Isto se escreve para sabermos o proveito que pode nascer de qualquer estudo da natureza, de uma simples peregrinação religiosa, passeio turístico, visita de um templo ou memorial sagrado tão fáceis de realizar, nestes tempos de férias e de largueza de vistas, de horas livres e de momentos de reflexão interior.
Se figuras célebres feitas sem intuito religioso vão atingindo a nossa sensibilidade interior, deixando-nos, no profundo de nosso ser, pensamentos intensos e fortes e estimulando-nos a sensibilidade para o inefável e inebriante, quanto mais não fará, se prestarmos a atenção devida, a facilidade de nos deixarmos penetrar pelos persuasivos e ardorosos sentimentos que povoam a nossa mente e o nosso coração.
Se todos sabemos ser a religião cristã um acontecimento histórico não só pela existência terrena de Cristo como também pelos eventos misteriosos que prepararam a sua vinda e pelas pegadas reproduzidas, pelos tempos fora, na continuidade dos crentes, nada de admirar a arte imensa que vai recordando à humanidade a presença dos dons religiosos e a faz vibrar por causa do eco trazido à nossa mente de tantos homens heróicos e santos pelos seus perfis bem delineados nos ícones ou monumentos.
O turismo é um meio admirável e fácil de aprofundarmos a nossa fé e a com a facilidade de a compreendermos melhor, pois temos oportunidades para o sossego e o repouso.
O que é necessário é tornarmo-nos interiormente livres, para fixar e recolher no coração os sentimentos sugeridos por tantas obras de arte ou memoriais a tornarem presentes tantos factos, gestos ou vidas para nossa instrução.
Caminhar apressadamente, por montes e vales, sem atenção a coisa nenhuma não será fazer turismo nem enriquecer-nos a nossa mente.