Tentemos esquecer as guerras tão mortíferas que aniquilam muitas vidas,

os rebuliços que perturbam tantas gentes, os desentendimentos que agitam e inquietam grandes países e poderemos julgar inocentes certas contendas que alastram impunemente pela terra além, assegurando ser a humanidade equitativa e recta, quando segue os resultados plausíveis de quaisquer eleições ou consultas populares.
Julga-se, hoje, estar no resultado vindo das opiniões da maioria a determinar a norma legítima do agir recto e honesto da humanidade, mesmo que tal se preste para exterminar muitos dos nossos irmãos que não concordem com ele.
O que é a lei justa, o critério autêntico e verdadeiro, senão a vontade da maioria expressa em votos ainda que traga à face da terra desgraças e calamidades e concorra para a  devassidão de toda a terra, desde que nos deixe em paz a nós e ao nosso ambiente? Virá o mundo a ser governado por votações, mesmo que se vinculem a horrores e repugnâncias, deixando de lado o senso comum e os rectos juízos? Poderemos, através de eleições, mudar conceitos e ideias que nos ofereçam a verdade moral dos nossos actos? Aqui e além julga-se que sim. Vamos a votos e saberemos com agir rectamente.
E em vez de reflectirem e repararem, em concreto, nas consequências trágicas de tamanhos dislates que afrontam as populações inteiras, muitos continuam a querer desprezar a recta razão para viverem segundo a sua vontade e incoerência.
Tudo isto que é aceite por governos e magistrados está prosseguindo na mente de tantos até penetrar mesmo nas regiões da fé, querendo igualmente deturpar as mensagens e preceitos divinos explicitados pela mesma natureza.
O que é o casamento? E logo muitos respondem, levados pela tradição e pelo sentir costumeiro, ser a união do homem e da mulher, em ordem à constituição da família e à continuidade da existência humana.
E votos, que fizeram lei, acrescentaram logo que também poderá ser a aliança de um homem com outro ou de uma mulher com outra, em ordem a uma comunhão de vida semelhante à dos casais.
Qual será o valor natural mais importante neste mundo? O próprio homem vivo – responderá a infinidade das respostas.
Mas hoje surgem as vozes daqueles que, afrontados com  vidas de pessoas humanas quer crianças já nascidas ou por nascer, quer doentes já sem préstimos económicos ou velhinhos que só dão trabalho e preocupações, se erguem como reis e senhores da vida e da morte, afirmando ser permitido destruir a existência de crianças não nascidas ou ainda pequeninas assim como pessoas já sem utilidade nenhuma para o progresso económico da nossa terra.
Quem impera na realidade autêntica do mundo? Hoje, o dinheiro, a vontade pessoal de cada um, o gosto de um existir sem problemas nem dificuldades. O antigo respeito pelos vivos, quaisquer que eles sejam, nenhuma importância terá, a não ser que os visados sejamos nós.
Havia, desde os mais remotos tempos, algo sagrado na mente humana. Era Deus, o Senhor de tudo quanto existe a Quem se devia respeitar como também a sua revelação ou Palavra, o seu querer e mandamento.
Hoje, o ser humano já se tem por rei e senhor da própria divindade e, sem respeito algum, fala e comenta sobre a sua existência, criticando seus mandatos, sua obra e providência.
Mesmo na sociedade cristã que põe a sua confiança em Jesus cujo mandamento fundamental será o respeito submisso, o amor total a Deus e aos irmãos, começam a surgir vozes e discursos a proclamarem a independência, a emancipação, a liberdade, auto-apelidando-se reis e senhores da vida e da morte.
A doutrina deixada por Jesus aos seus discípulos, como já se não acomoda ao pensar moderno, deve substituir-se, nestes novos tempos, ajustando-se às recentes e agradáveis mentalidades e às práticas de viver.
As leis de Jesus vêm de Deus, da sua infinita sabedoria. Nelas se ordena o perfeito relacionamento entre os homens e Deus e ainda destes entre si, para conviverem como irmãos numa igualdade respeitosa, sem ninguém se tornar o todo-poderoso, o dono de quanto há, mas sim exercitando-se  no serviço quotidiano dos outros.
Será evidente que as formas do auxílio se devem adaptar às condições actuais e possíveis desta hora sem jamais destruir os outros ou prejudicar os seus interesses.
Ora, hoje como sempre, o indivíduo não pode pagar o seu progresso, o seu bem-estar, com mentiras e artimanhas, traindo a verdade conhecida como tal.
Na mente de tantos, a verdade foi permutada pelo progresso tomado segundo a mentalidade hodierna que o transformou no bem-estar e na vida confortável do lazer e da vida regalada.