O Governo anunciou, na última semana, com todas as parangonas e em jeito de campanha eleitoral,

a redução do preço das portagens em várias auto-estradas do País, nomeadamente naquelas que servem as zonas mais desfavorecidas e esquecidas. Falaram em “desconto de quantidade” para melhorar a mobilidade dentro dos territórios, sobretudo do Interior.As reduções só acontecem para os utilizadores assíduos, ou melhor quase diários dessas vias e a partir de determinado número de viagens. Fica bem ao Governo dizer que vai reduzir o preço das portagens mas esquece-se que a convergência interior-litoral não se combate com medidas avulsas que continuam a impor limites à mobilidade nos territórios mais longínquos dos grandes centros populacionais e que mantem o preço final das portagens, mesmo com descontos de quantidade, como os mais caros do País.O Governo garante que vamos ter um novo desconto de quantidade, que representará uma redução de 25% da factura mensal para os veículos que circulem todos os dias do mês, em determinadas vias. Esta medida mais parece para tapar o sol com a peneira, ou seja, para ocultar alguma coisa com medidas temporárias, parcialmente eficientes ou ineficientes.Diz-nos a sabedoria popular que quem tenta tapar o sol com a peneira apenas pretende adiar a responsabilidade de resolver determinada situação no presente para o futuro. Quer queiramos, quer não, uma medida desta natureza só pode ser interpretada como uma atitude de desleixo e negativa, pois transmite a ideia de irresponsabilidade e falta de compromisso para com quem vai resistindo, onde quase ninguém quer ficar. No meio de todo este processo não deixa de ser curioso ouvir dizer da Ministra da Coesão Territorial: “Se dependesse de mim, não haveria portagens!”. Mas, a mesma Ministra também reconheceu que alguns membros do Governo deviam andar mais no terreno. Se assim acontecesse talvez dessem conta de que é preciso caminhar para a reposição da justiça e do modelo para o qual as SCUT foram construídas. Tal como está proposto, para beneficiar de descontos é preciso consumir muito mais. Não bastava já o anterior pedido do Secretário de Estado da Energia para se “consumir mais energia”? Agora é preciso consumir quilómetros para se beneficiar de umas migalhas na redução do preço das portagens.