Desde os tempos antigos até mesmo aos dias de hoje, a figura da mulher tem sido revestida de inferioridade, pequenez e baixeza, tanto no aspecto individual como no colectivo.


Esta perspectiva geral em quase todo o mundo e todas as épocas, espalhou-se, no campo religioso, e até invadiu a mentalidade bíblica. Daí passou para o pensamento cristão. Ora a história antiga não nos conduz a esta mentalidade.
Logo no início da criação, está bem claro, no Livro das Origens, que Deus fez o ser humano à sua imagem e semelhança, e criou-o homem e mulher e abençoando-os, Deus disse-lhes: “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra”.
Na história da criação, o tom prossegue: “O Senhor Deus disse: ‘Não é conveniente que o homem esteja só, vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele’”. E a perfeição desta obra levou Adão a exclamar: “Esta é realmente, osso dos meus ossos e carne da minha carne”.
Pela narrativa posterior, o sexo feminino vai sendo desconsiderado, excepto quando a mulher foi escolhida para Mãe de Deus e do Redentor.
A Igreja tem respeitado a mulher, concedendo-lhe a mesma honra e consideração com que venera o homem. Certamente que os hábitos e as regras estabelecidos, através dos tempos, influíram nas formas de conviverem as pessoas e, pelos séculos fora, assistir-se-á a mudanças variadas como estamos hoje a passar.
Se na veneração aos santos, o culto mais distinto e digno se tem atribuído à Virgem Santa Maria Mãe de Deus, não será em atenção ao seu sexo mas ao carácter de suas acções e vivências no plano maravilhoso tanto do seu ser e actuar, como no campo do processo salvífico da humanidade.
Ela recebeu das mãos do Altíssimo prendas e graças a mais ninguém dadas. Daqui, a estima e veneração dos fiéis cristãos foi sempre única.
Escrevo tudo isto para anotar um decreto papal que veio demarcar com honra maior e engrandecimento mais celebrado a comemoração litúrgica daquela mulher cuja comemoração foi elevada a um plano mais importante chamado festa. Aí a sua designação não foi mesmo acompanhada com o nome nada habitual de apóstola dos apóstolos, isto é, a primeira mensageira que anunciou aos mesmos discípulos escolhidos por Cristo a ressurreição do Senhor.
A mensagem da salvação que seria difundida até aos confins da terra pelos mensageiros do Senhor Jesus, foi a ela entregue, ao procurar no sepulcro o corpo do Senhor.
O comentário de uma teóloga moderna afirma que a liderança de Maria Madalena desafia a Igreja inteira a converter-se à participação das mulheres, como discípulas, a um nível de igualdade no século XXI.
A primeira testemunha da ressurreição de Cristo não uma certa mulher, mas aquela que ficou na história com um nome e uma atitude: Perante o Senhor que lhe diz o seu nome: Maria, e por ela foi reconhecido com o título de Rabbuni, ouviu a sua função: “Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: ‘Subo para o meu Pai, e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus’. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: ‘Vi o Senhor!’. E contou o que lhe tinha dito” .
Através da história simples e quotidiana da fé cristã, não exageramos nada ao afirmar que a transmissão desta fé no Senhor Ressuscitado foi um ofício efectuado pelas mães cristãs, na herança que deixaram aos filhos a quem instruíram nos fundamentos da doutrina cristã.
Já o Concílio último quis salientar: “E como hoje a mulher tem cada vez mais parte activa em toda a vida social, é da maior importância que ela tome uma participação mais ampla também nos vários campos do apostolado da Igreja” .
Maria Madalena ficou designada a Apóstola dos Apóstolos, quando Jesus lhe deu o encargo de: “Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que Eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.
O Papa Francisco escolheu, há pouco, um conjunto de teólogos para o informarem acerca da possibilidade da ordenação de mulheres, confiando-lhes cargos correspondentes aos dos diáconos. Ainda não sabemos a resposta, mas conhecemos que nos primeiros séculos da Igreja se atribui a algumas mulheres o título de diaconisas cujas tarefas se não conhecem bem.
Conhecemos sim os inúmeros trabalhos que, ao longo da história, tantas mulheres desempenharam e desempenham na transmissão da fé, nas tarefas de caridade e mesmo em muitas funções litúrgicas.
Aguardemos.