“A noção de bem comum engloba também as gerações futuras” lembra o Papa Francisco na Carta Encíclica “Laudato Si”,

quando escreve sobre “a justiça intergeracional”. Refere ainda que “já não se pode falar de desenvolvimento sustentável sem uma solidariedade intergeracional”.
Recorro às palavras sábias do Papa, poucos dias depois de termos celebrado o Dia Mundial da Terra. Desde 1970 que a data é assinalada, todos os anos, a 22 de Abril, lembrando o protesto do senador norte-americano, Gaylord Nelson, contra a poluição da Terra, depois de verificar as consequências do desastre petrolífero de Santa Barbara, na Califórnia, ocorrido em 1969.
Inspirado pelos protestos dos jovens do seu país, que contestavam a guerra, Gaylord Nelson conseguiu que o tema da preservação da Terra entrasse na agenda política.
O esforço de Gaylord Nelson traduziu-se numa manifestação popular, que juntou mais de 20 milhões de americanos, a favor da preservação da terra e do ambiente.
Perante os novos desafios e a falta de solidariedade intergeracional em relação ao uso que está a ser feito dos recursos existentes, o Papa vem lembrar-nos que “se a Terra nos é dada, não podemos pensar apenas a partir de um critério utilitarista de eficiência e produtividade para o lucro individual. Não estamos a falar de uma atitude opcional, mas de uma questão essencial de justiça, pois a Terra que recebemos pertence também àqueles que hão-de vir”.
Apesar de todas as advertências e preocupações, o ser humano é cada vez mais egoísta e individualista, numa sociedade onde impera o descartável.
De pouco ou nada adiantam os alertas de investigadores e associações ambientalistas para o perigo e consequências do aquecimento global da Terra. Somos constantemente bombardeados por notícias que nos falam do aumento da temperatura global da Terra; da extinção de espécies animais; do aumento do nível dos oceanos; da escassez de água potável; do maior número de catástrofes naturais, como tempestades, secas e ondas de calor.
Perante esta realidade tão trágica e pouco assumida, será que ainda tem sentido celebrar o Dia Mundial da Terra? Com que finalidade passamos por este mundo? Que necessidade tem de nós esta Terra? O papa Francisco diz que “já não basta dizer que nos devemos preocupar com as gerações futuras” mas que se exige “ter consciência de que é a nossa própria dignidade que está em jogo”.
De facto deveríamos ser nós “os primeiros interessados em deixar um planeta habitável para a humanidade que nos vai suceder”. Este drama interpela o sentido da nossa passagem por esta Terra que não é nossa mas que devemos cuidar para que outros a possam usar.
É nesse sentido que o Papa propõe uma mudança de fundo na relação da humanidade com o meio ambiente, alertando para as consequências já visíveis do aquecimento global e das alterações climáticas.
Se em 1970 os protestos surgiram contra a poluição da Terra, depois das consequências do desastre petrolífero de Santa Barbara, agora, o documento do Papa Francisco contesta um modelo de desenvolvimento baseado no “uso intensivo de combustíveis fósseis”, que ainda está no centro do sistema energético mundial.
Perante o que está a suceder à Terra, a nossa casa comum, não podemos olhar com desprezo e ironia para as previsões catastróficas com que somos confrontados todos os dias. Actualmente, este é um dos principais desafios para toda a humanidade.