Temas como o despovoamento, a ruralidade e até mesmo a ecologia não são muito habituais nas reuniões dos padres da Diocese da Guarda.

Numa região predominantemente rural, é cada vez mais notório o envelhecimento da população e o abandono dos campos. Longe vai o tempo, de famílias predominantemente numerosas, onde todos ajudavam no sustento da casa. Mas, mudam-se os tempos e as vontades também. A algazarra dos mais novos, nas noites quentes de Verão, dá agora lugar ao silêncio recolhido dos mais velhos, poucos e já cansados, que ainda vão resistindo por estas paragens.
Os que partiram, com o sonho de uma vida melhor, há muito que perderam o sentido da origem e a força da pertença a lugares únicos e de referência. Da vida em comunidade, sem medo de multidões anónimas e de portas trancadas a sete chaves, já quase não há lembrança. Nos grandes centros tudo acontece de forma diferente e muito impessoal. As pessoas cruzam-se como ilustres desconhecidos e sem se preocuparem demasiado umas com as outras.
Numa altura em que a Diocese da Guarda prepara algumas alterações a nível pastoral e territorial, não pode esquecer assuntos como a ecologia, a interioridade, a ruralidade e o envelhecimento das populações. A Igreja local não pode cruzar os braços e ficar conformada com o desenrolar dos acontecimentos. Também nestes temas tem uma palavra a dizer e lançar mãos à obra.
Neste ponto é bom lembrar que o Papa convocou um encontro para Outubro, onde vão ser abordadas as consequências da exploração da floresta e dos recursos hídricos. Sem medo, denuncia num novo documento sobre a Amazónia, a exploração levada a cabo por interesses económicos que ameaçam o “pulmão do planeta” e os direitos dos povos indígenas.
“A vida na Amazónia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazónica. De modo especial a violação dos direitos dos povos originários, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios”, refere o documento de trabalho da assembleia especial do Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que o Papa convocou para Outubro.
No texto, que conta com o contributo das comunidades locais, a Santa Sé dá voz a preocupações sobre “a destruição múltipla da vida humana e ambiental, as doenças e a contaminação de rios e terras, o abate e a queima de árvores, a perda maciça da biodiversidade, o desaparecimento de espécies”. O documento orientador dos trabalhos do Sínodo 2019 fala da questão dos “povos isolados”, particularmente vulneráveis, e dos desafios levantados pela emigração.
Numa realidade bem diferente da nossa, os problemas parecem muito semelhantes. Se o documento não falasse especificamente de uma parte do mundo, seríamos levados a pensar que estava a falar de nós e do lugar onde vivemos.