Para o mundo litúrgico e crença elementar da alma cristã como para o fundamental conhecimento das coisas de Deus e dos seus mistérios o mais importante é a sabedoria acerca de Jesus e a ciência dos seus mistérios revelados sobretudo na sua morte cruel e ressurreição gloriosa.
Daqui, serem os tempos pascais precedidos pela quaresma, sua fase preparatória, os mais vividos e guardados no íntimo do coração dos crentes.


Para estes não bastam as comemorações solenes e austeras dos ritos sagrados mas promovem-se e procuram-se ainda vivências exteriores a intercomunicarem-se nos ânimos da colectividade fervorosa dos fiéis.
Por isso, através dos séculos, foram-se acrescentando e instaurando costumes que os tempos tornavam tesouros para guardar e transmitir de geração em geração cuja sobrevivência perdura ainda, nos dias de hoje. Nestas praxes ritualizadas, reflectem-se o brilho, esplendor e fausto maiores do que nas solenidades litúrgicas e ao, mesmo tempo, com mais perfeita vivência pessoal animados até com grande ajuntamento do povo. Claro que tais actos religiosos trasbordam para a devoção particular vivida na convivência das casa e famílias. Tenham-se em vista os crucifixos e quadros expostos e venerados em tantas representações do Calvário, do Senhor dos Passos com sua Santa Mãe, a Verónica com o santo sudário e muitas outras cenas.
Lembremos ainda outras expressões sagradas que hão-de evidenciar diferenças, comparando-as em contraponto com os ritos mais litúrgicos, propensos à interioridade meditada nas leituras bíblicas e com os sermões pregados até nas ruas e praças.
Não bastando tais usos, ainda contemplamos, em lugares ermos e silenciosos, santuários mais ou menos sumptuosos, com figuras da paixão e morte do Senhor tão visitadas quer por cristãos individualmente considerados quer por grupos ou assembleias bastante numerosas cheias de fervor.
São, as ermidas abertas às peregrinações, onde se desenrolam festas geralmente sem correspondência com os calendários oficiais cujas razões iniciais têm origem desconhecida, talvez algum facto que marque a presença de um fenómeno mais ou menos admirável que se perde na bruma dos tempos. Apontam a memória de um evento extraordinário que provocou o nascimento de manifestações piedosas, a manifestarem o reconhecimento de uma população por uma graça recebida. Aí se continua a manifestar o poder do Alto em dons gratuitos ou tidos como tais.
Sempre e por toda a parte, estes lugares vão manifestando o valor desta ou daquela palavra evangélica ou da transcendência de certas mensagens divinas. Daqui, a obrigação dos reitores desses santuários de se responsabilizarem pela nobreza dos ritos e simplicidade e ainda pelo respeito fiel das normas litúrgicas.
Aqui, se coloca também o valor das peregrinações, formas de guardar, com a simplicidade dos pobres, alguns aspectos da devoção cristã.
Agora, durante a quaresma, são particularmente importantes os cortejos religiosos denominados procissões quer sejam dirigidos pelas leis litúrgicas como os Ramos que iniciam a Semana Maior, evocando a entrada de Jesus em Jerusalém, por entre as aclamações do seu povo, ou a do Senhor dos Passos, a lembrar a caminhada de Cristo ao Calvário sob o peso da cruz. Também se apresenta como acto de fé, com meditação e prece, o silencioso acompanhamento do povo até ao lugar onde se coloca a imagem de Cristo jacente, a recordar a última homenagem dos poucos discípulos já depois da sua morte, quase no início da manifestação total da sua glória.
O morrer com Cristo, segundo a teologia cristã, principia no baptismo, onde também se ressuscita para uma vida nova, pois o primeiro sacramento constitui um mergulhar na morte de Cristo e com Ele ressurgir para uma vida nova.
Segundo a palavra bíblica será todo este cerimonial a evocação dos tempos eternos na glória do Pai: “a morte não existirá mais, não haverá mais choros, nem gritos, nem tristeza, pois a primeira criação desapareceu”.
Por esta razão, em muitas Igrejas da terra, logo no início da manhã de Páscoa se realiza a procissão da Ressurreição com o Santíssimo levado em triunfo num cortejo, a recordar as aparições do Ressuscitado aos discípulos e a união definitiva com eles, a confirmar a promessa: “Eu estarei sempre convosco até à consumação dos séculos”.