Não é nova a migração. Desde que o mundo é mundo, tal fenómeno aparece em muitas regiões.

A expansão da humanidade foi-se realizando por este processo de caminhar de um lado para o outro até encontrar terra aprazível com facilidades de viver mais cómoda e tranquilamente. “Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teus pais e vai para a terra que Eu te mostrar” – foi o começo da vocação do povo da promessa. Mais tarde, após este ter vivido centenas de anos no Egipto, Moisés escuta o convite: “E agora, visto que o clamor dos filhos de Israel chegou a Mim e Eu vi a carga que os egípcios fazem pesar sobre eles, vai pois! Eu te envio a faraó. Faz sair do Egipto o meu povo, os filhos de Israel”.
Se consultássemos a história de outras gentes, notaríamos circunstâncias e movimentações análogas. Hoje ainda, devido às diferenças de cultura, de costumes, de clima, por causa da vida económica mais facilitada e ainda do espírito de tantos aventureiros ousados e intrépidos quando não curiosos investigadores,  o feito migratório aparece por muitas regiões do mundo, trazendo à humanidade várias preocupações causadas por tanto mal-estar proveniente destas deslocações, sem esquecer também tantos benefícios que nascem desta aventura.
A verdade é que as migrações provocam certa instabilidade nos povos, sobretudo no tempo em que muita gente chega à sua região com hábitos, modos, praxes, comportamentos e língua diferentes, o que provoca uma certa desconfiança, bastante apreensão e até medos, para além de benefícios a alcançar.
A mobilidade das gentes que chegam ou partem e também dos indivíduos, quando se vêm obrigados a assumir outras regras de conduta ou modos desiguais de viver, devido à adaptação aos distintos climas e sociedades, acarretam alguns sobressaltos, por falta de confiança recíproca, de mútuo conhecimento de discrepâncias provocadas.
Tais situações impõem normas tanto a quantos chegam como aos já residentes.
No Antigo Testamento, Deus recordava o bom acolhimento a dar aos imigrantes: “Lembra-te que também tu foste migrante na terra do Egipto” e outros livros bíblicos vão recomendando a boa hospitalidade a dar aos estrangeiros, o bom relacionamento entre quantos se vão encontrando nos caminhos da vida.
Porque, nos tempos de hoje, os problemas da mobilidade humana tomam diversas facetas, conforme os lugares e as populações, a superintendência da Igreja vem apontando directivas e propondo ensinamentos para que, em toda a terra, a convivência entre todos os homens mesmo quantos se encontram longe da pátria de origem seja equitativo, justo, recto, a saber a caridade.
Já o Concílio Vaticano II propõe orientações a fim de que os crentes possam ter luzes exactas neste domínio. Não apenas para as gentes que deixam o seu país mas ainda para quantos abandonam o seu meio habitual, deslocando-se, na sua própria nação, para ambientes diversos como é o rural e o citadino. Citemos tão somente um conselho dado para esta época onde o incremento migratório, a melhoria das relações mútuas e a facilidade das ligações trouxe os seus problemas: “É também exigência da justiça e da equidade que a mobilidade, necessária para o progresso económico, seja regulada de tal maneira que a vida dos indivíduos e das famílias não se torne insegura e precária. Deve, portanto, evitar-se cuidadosamente toda e qualquer espécie de discriminação quanto às condições de remuneração ou de trabalho, com relação aos trabalhadores oriundos de outro país ou região, que contribuem com o seu labor para o desenvolvimento económico da nação ou da província. Além disso, todos, e antes de mais os poderes públicos, devem tratá-los como pessoas, e não como simples instrumentos de produção, ajudá-los para que possam trazer para junto de si a própria família e arranjar conveniente habitação, e favorecer a sua integração na vida social do povo ou da região que os acolhe”.
Para este ano, chega-nos a mensagem papal para a Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado com o título “Migrantes e Refugiados: rumo a um mundo melhor”.
Nela, depois de se referir à interdependência e interacção a nível global em ordem à melhoria das condições de vida tanto nos aspectos económicos como nos políticos e culturais, refere-se à ânsia dos homens hodiernos quererem viver a unidade, partilhar equitativamente os bens da terra e a promover a dignidade de cada indivíduo.
Vem, depois, a chamada de atenção para os desejos dos migrantes: a confiança e a esperança num futuro melhor para si próprios e para as famílias e pessoas queridas. E vem logo a definição de um “mundo melhor”: o mundo com o desenvolvimento autêntico e integral, com condições de vida dignas, com respostas justas para as exigências das pessoas e famílias e ainda com a natureza que Deus nos concedeu preservada e cultivada. Ataca a miséria e pobreza que alastra pelo mundo e consequentemente a opulência de tantos que não se lembram da partilha e da interajuda recíproca e equitativa para os demais. Apela para o espírito de solidariedade e compaixão a ser promovido mesmo pelas autoridade a nível internacional.
Para tanto, seria necessário emendar certos defeitos da nossa sociedade, tal a defesa e o medo perante os emigrantes, e promover a cultura do encontro que nos levará a fazer da humanidade uma só família, sob a égide protectora de Deus.
A semana de 10 a 17 de Agosto será dedicada aos emigrantes, mas servirá também de reflexão para todos nós, a fim de colaborarmos para a união fraternal e para o amor alargado a cada um dos homens descobertos nos nossos caminhos.