Mesmo que as luzes tenham sido apagadas e as janeiras cantadas,

ainda estamos em Tempo de Natal. Este tempo litúrgico, que não se rege pelas regras do consumo e do comércio, decorre desde as Vésperas I do Natal do Senhor até ao domingo depois da Epifania, isto é, até ao domingo a seguir ao dia 6 de Janeiro inclusive. Assim sendo, este ano o Tempo de Natal termina a 12 de Janeiro.
Portanto, continuamos a viver a época natalícia até segundas Vésperas do dia do Baptismo de Jesus. Ainda que a Oitava da Epifania tenha sido eliminada oficialmente continua a fazer parte do Tempo de Natal.
Se assim é, podemos perguntar porque é que não se mantém a decoração de Natal até o dia do Baptismo de Jesus? De forma simples, a explicação pode estar no facto de o significado do esplêndido período da Epifania e do verdadeiro e completo sentido do Natal ser cada vez mais esquecido.
Mudam-se os tempos e, com eles, também as vontades. No que diz respeito ao verdadeiro espírito natalício desde há muito que outros valores se levantam e vão imperando, nas sociedades hodiernas. Os ritmos são cada vez mais ditados e impostos pelo comércio que não se compadece com usos e costumes que não dão lucro. A antecipação, em muitas semanas, do que deveria ser o autêntico Tempo de Natal, acaba por ofuscar a celebração da grande Festa do Nascimento.
Quase sem darmos conta, somos empurrados por uma máquina sedenta de novos negócios, novas propostas, que não olha a meios para alcançar os fins. Os números do consumo das últimas semanas são milionários e deveriam ajudar-nos a repensar a nossa maneira de estar e de agir. De acordo com as estatísticas, os portugueses fizeram oito mil milhões de euros em compras e levantamentos na rede Multibanco no último Natal, mais 500 milhões que no Natal de 2018. A gestora da rede Multibanco aponta para 166 milhões operações realizadas entre 1 de Dezembro de 2019 e 2 de Janeiro de 2020, entre levantamentos e pagamentos. Se a tudo isto juntarmos a toneladas de resíduos que são produzidos, os números ainda são mais preocupantes.
Também o Natal deveria ser tempo para termos em conta o cuidado pela nossa casa comum que é Terra. Infelizmente a nossa casa comum deixou de ser um lugar seguro e próspero. Por isso, é tempo de acordar, antes que seja demasiado tarde.