Também, na Sé catedral da Guarda, se repetiu o mandato sálmico:

“Abri as portas de justiça, nelas entraremos para dar graças ao Senhor”. Uma vez franqueado o pórtico, o Bispo que presidia à cerimónia, continuou, convidando o povo santo de Deus a entrar por ela, a fim de mais e melhor viverem em coração bondoso e compassivo: “Esta é a porta do Senhor: por ela entramos para alcançar misericórdia e perdão”.
Ao querer introduzir mais e mais no âmago do mistério os que iriam celebrar os mistérios santos, o Prelado explicou ser o coração do Pai infinitamente bom que vem ao encontro de cada um e deseja enchê-lo de graça e ternura.
Ao querer preparar os cristãos para este jubileu extraordinário, o Santo Padre havia escrito a Bula da proclamação do Jubileu Extraordinário, onde afirmou: “Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz”.
E para se compreender com maior profundidade esta certeza, apontou a meditação deste mistério admirável, durante o ano agora inaugurado como forma de crescer cada vez mais no amor ao Deus infinitamente bondoso e compassivo e a derramá-lo com maior abundância sobre os irmãos.
Assim afirma no seu extraordinário documento. “A Misericórdia é o acto último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida”. Deste modo, a misericórdia do Eterno será a forma de constantemente manifestar o seu poder infinito, uma vez que, ao perdoar, demonstra a omnipotência que todos os crentes devem espalhar à sua volta.
Como a Igreja sente a responsabilidade de ser, no mundo, o sinal vivo do amor do Pai, irá prosseguir na terra, como delegada do seu Amo, a grande e maravilhosa atitude divina que tudo perdoa e tudo recria.
No Antigo Testamento, para descrever a natureza de Deus, no seu relacionamento com a humanidade, repete-se constantemente, sobretudo ao narrar o seu proceder para com o povo escolhido ou ensinar os homens a agradecer ao Senhor: “Ele é paciente e misericordioso, a sua misericórdia é eterna.
Ao surgir a hora de o Verbo incarnar neste mundo perverso e desumano, tornou-se mais claro e nítido o quanto o Pai eterno continua a amar os seus filhos nunca desprezados, nem sequer na hora da desobediência e pecado, pois logo prometeu o Redentor que purificaria todo o género humano de qualquer iniquidade.
Sobretudo na sua Paixão e Morte, Jesus, o verdadeiro rosto de Deus, ofereceu-nos o exemplo de amor sempre a imitar, como Ele próprio afirmou para quantos desejam ser felizes e seus discípulos, seguidores de sua doutrina quer anunciada pela sua palavra, quer concretizada no exemplo da sua vida.
O Senhor Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para distinguir quem são os seus verdadeiros filhos, pois que estes hão-de assemelhar-se aos pais. Deste modo, somos chamados a viver e a comunicar misericórdia, porque, primeiro, foi ela usada para connosco.
“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”- é a bem-aventurança que deve orientar o nosso empenho programado para este Ano Santo.
Aliás, a palavra do Mestre encontra-se, muito clara, no Evangelho: “Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso”. Tal como Ele é assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.
Neste tempo, em que a experiência do perdão vai rareando cada vez mais, na nossa cultura e nos nossos costumes, chegou de novo para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão, essa atitude maravilhosa que nos traz a coragem de olhar o futuro com esperança.
A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus.
Neste gesto, encontra-se o coração palpitante do Evangelho, que, por meio de todos os crentes, deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. Assim se deve viver e testemunhar a misericórdia. A nossa linguagem e gestos sejam exemplos vivos e actuais, para penetrarem as almas das pessoas, a fim de todos irradiarem misericórdia “Para sermos capazes de misericórdia – afirmou o Papa - devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. Para tanto é forçoso recuperarmos o valor do silêncio, a fim de retomar a Palavra que nos foi dirigida”.
Será este o lema do Ano Santo.