Os costumes, hábitos e comportamentos das pessoas vão-se mudando conforme as tradições e usos das gentes,

consoante as circunstâncias surgidas com uma certa adaptação ao desenvolvimento económico e social das gentes.
Não há dúvida nenhuma que a formação intelectual até das meninas se vai alargando hoje. Desta forma, as profissões dos jovens ficam à mercê não apenas das pessoas consoante os sexos, mas vão-se distribuindo segundo as necessidades sociais e o querer de cada um.
Ainda há pouco tempo, a sucessão de um trono régio, nas monarquias, tornou-se herança não dos homens ou das mulheres mas do primeiro filho do casal, seja ele de que género for.
Estou a recordar isto, para chamar a atenção dos costumes que vão surgindo em muitas partes da terra, a fim de repararmos que muitas formas de servir a Igreja são repartidas entre homens e mulheres indistintamente, sem se ter em conta o género.
Todos sabemos que Jesus escolheu homens para apóstolos e a tradição eclesial prosseguiu na mesma praxe, conservada ainda hoje em todo o mundo. Lemos no evangelho terem sido mulheres as primeiras testemunhas a transmitir a boa-nova da ressurreição. Mas este facto não obteve nenhum privilégio especial.
Embora nas épocas passadas, as pessoas do sexo masculino fossem privilegiadas no acesso às funções eclesiais, hoje, mesmo entre nós, muitos ofícios até mesmo litúrgicos se vão entregando a religiosas e até leigas preparadas para tanto.
Já presenciei reuniões dominicais dirigidas por senhoras. Muitos retiros espirituais são conduzidos por religiosas que também vão chefiando actividades formativas mormente dirigidas a jovens.
E tudo isto não é apenas dos nossos tempos. Sabemos pela história que muitas fundadoras de ordens ou congregações erigiram e divulgaram comunidades de freiras. Mosteiros ou conventos de grande prestígio e influência, com tradição de séculos, ainda hoje se mantêm sob a alta direcção de mulheres.
A fama de tantas fundadoras de ordens e congregações religiosas cuja existência ainda hoje persiste, atravessou séculos, embora em muitas épocas da história tivessem sido até perseguidas, continuam a realizar, no presente, os seus projectos.
Estou a escrever este pequeno artigo, porque li, há dias, uma notícia dada por Lucetta Scaraffia nomeada responsável pelo suplemento mensal – Donne Chiesa Mondo – (Mulheres Igreja Mundo), do “L’ Osservatore Romano” – Jornal da Santa Sé -. Queixava-se amargamente por não darem às mulheres facilidades de escreverem, com certo à-vontade, sobre assuntos pertinentes e bem importantes para os tempos de hoje.
Dona de uma cultura religiosa desmedida, pois fora professora na universidade de História Contemporânea, começou a estudar as mulheres na Igreja, as monjas e as santas, sobretudo Teresa de Ávila.
Abriu, com mandato do Papa, um suplemento mensal para várias mulheres, (onde estavam inseridas uma judia, uma leiga não crente) e aí continua a escrever.
Queixa-se que as vozes femininas têm sido silenciadas. A elas não se pede opinião, embora haja muitas mulheres de valor nas ordens religiosas, nas comunidades femininas, sem falar em muitas leigas.
Ainda no sínodo sobre a família, embora tratasse de um assunto importante para elas, não se lhes pediu vez nenhuma a sua opinião. E pergunta: “Por que razão só os padres têm direito de falar sobre a Igreja? A Igreja não é feita apenas de padres”.
Pede então que sejam ouvidas até para as escolhas e nomeações de bispos e ainda nas reuniões a nível mundial. As leigas, afirma deviam ser ouvidas em questões familiares, de catequese e formação de jovens principalmente.
Também não parece desprovida de razão quando põe estas questões .Mas a tradição pesa muito, nos costumes da Igreja, e também o alargamento dos estudos eclesiásticos para o sexo feminino não é muito recente no mundo.
A prova da sua nomeação para directora daquela folha mensal, num semanário tão conhecido na vida da Igreja de Roma, é já uma abertura que anuncia novos tempos.
Se a Igreja é formada por homens e mulheres e se estas, nestes últimos tempos têm subido na esfera intelectual mesmo nas coisas da Igreja, bom é que se lhes dê o lugar a que lhes compete.