A loja «José Teixeira», localizada na Rua da República, N.º 71,

uma das mais antigas da cidade de Pinhel, onde é vendido “de tudo um pouco”, ainda tem livro de fiado. “Nestes meios pequenos ainda há livro de fiado. As pessoas vão aos grandes centros e pagam e aqui vêm pedir fiado, mas vão pagando”, disse ao Jornal A GUARDA o proprietário José Alberto Teixeira, de 70 anos, que começou a trabalhar na loja aos 11 anos com os padrinhos, que foram os fundadores do estabelecimento. “As pessoas são conhecidas, levam as coisas e pagam mais tarde. É uma tradição que ainda mantenho. Agora já são pequenas quantias. Antigamente eram valores mais elevados. Ainda tenho os livros de fiado antigos e tenho alguns calotes de 30 e tal contos que nunca pagaram”, contou. “Agora, o que acontece é que as pessoas vêm pagar um artigo e depois levam outro que assento no livro, mas nestes meios pequenos não se pode dizer que não e também é uma maneira de ajudar as pessoas. Com a crise, nota-se que as pessoas não têm dinheiro e nós facilitamos”, referiu o comerciante que está diariamente ao balcão da loja que mantém a decoração original, como quando abriu as portas há 80 anos. “Já aqui estou há 57 anos. Vim para cá com 11 anos. Comecei a trabalhar com os meus padrinhos que construíram a casa há 82 anos e abriam a loja dois anos mais tarde. No início fazia recados e pesava o arroz e o açúcar”, lembrou. Disse que em 57 anos “Pinhel mudou muito. Fecharam muitos estabelecimentos. É uma terra que tem pouco movimento, mas diziam que na época em que esta loja abriu era a mais bonita que cá estava. Hoje é uma loja velha. Algumas pessoas que passam na rua até entram para a verem por dentro, para apreciarem o antigo”. De acordo com José Alberto Teixeira a sua loja “é uma loja mista de tudo um pouco”. “A gente tem que ter um pouco de tudo, porque o meio é pequeno, não há muito movimento e temos que ter várias coisas para vender”, justifica. Vende loiças, lãs, linhas, tecidos, brinquedos, panelas de ferro, guarda-chuvas, imagens de santos, etc. “Também já aqui tive mercearia. Acabei com ela quando abriram os supermercados. Até vendíamos muita coisa de mercearia, mas eu não quis continuar e acabei com essa parte”, disse o homem, afiançando que “o forte da casa são as flores (artificiais), as louças e os tecidos”. “Antigamente as pessoas compravam muitos tecidos. Ainda tenho para aí muitos tecidos com 30 e 40 anos e já se venderam muitos para as feiras aqui de Pinhel, para fatos antigos. Os tecidos ainda se vão vendendo e não deixo de ter porque tenho, por exemplo, linhos e panos para toalhas, que têm muita procura. Alguns tecidos para fatos e para vestidos é que já vendo pouco, porque agora tudo compra a roupa já feita”. O proprietário da loja «José Teixeira» orgulha-se de ter começado a carreira profissional na casa como empregado, passando depois a ser sócio e, mais tarde, a deter a totalidade do capital social da firma. O comerciante também se regozija de ter clientes certos na cidade e em todo o concelho de Pinhel: “Se não vêm buscar uma coisa, vêm buscar outra. Estar aqui há 50 e tal anos não é brincadeira”. No entanto, lamenta que, um dia mais tarde, a loja possa acabar porque os dois filhos, professores, “não querem saber nada disto, porque não podem deixar o certo pelo duvidoso”. “Para mim dá, mas quando eu fechar os olhos ou quando não puder trabalhar, a loja é logo fechada ou é vendida”, prevê. O estabelecimento funciona de segunda a sexta-feira das 9.00 às 12.30 e das 14.00 às 18.30 horas. Aos sábados está de portas abertas entre as 9.00 e as 13.00 horas, “mas nem sempre foi assim”, lembra José Alberto Teixeira. O homem conta que “há uns 30 e tal anos, ao sábado, o comércio estava de portas abertas até às 19.00 horas”. “Fui eu que arranjei para as lojas comerciais fecharem às 13.00 horas, porque aos sábados de tarde não havia movimento. Eu juntei-me com outros comerciantes, fomos à Câmara e acabámos com isso”, recordou.