Carnaval


Os enchidos são muito procurados nesta altura do ano nos cinco talhos do Mercado Municipal da Guarda. Os enchidos (morcela, chouriça, chouriça bocheira e farinheira) têm procura durante todo o ano, mas no período do Carnaval o destaque vai para o bucho que também é vendido para vários pontos do país e para o estrangeiro, especialmente para França, onde se encontram muitos naturais da região. Alguns dos talhos têm salsicharia própria, como é o caso do Talho Reduto e do talho de Armando Costa Neves e Filhos, e os outros vendem enchidos que também são produzidos nas salsicharias da região da Guarda pelo método tradicional. Os enchidos vendem-se durante todo o ano, mas de acordo com Carlos Pires, do Talho Reduto, “o Carnaval é a época dos enchidos e do bucho”. No entanto, o talhante reconhece que o bucho é sobretudo procurado pelas pessoas mais velhas, pois os mais novos “já não gostam do bucho, porque dizem que tem muita gordura”. “Temos pessoas que quando vêm à cidade da Guarda procuram os nossos enchidos. Nesta altura vendemos muito bucho, assim como a morcela, o farinheiro e a chouriça bocheira de cozer”, disse. E acrescentou: “Antes das portagens nas auto-estradas (A25 e A23, que servem a região) vinha mais gente de fora. Há uns anos vinha gente no Carnaval com mais frequência à Guarda, mas derivado às portagens já não se deslocam tanto, porque as deslocações ficam muito caras”. Assim, muitas das vezes, são os familiares que residem na Guarda que compram e enviam os enchidos para outros locais do país e também para o estrangeiro, sobretudo para França. O bucho tradicional da região é feito com carne de porco: “muita orelha, focinho, rabo, cabeça e carne da calubra, também conhecida por carne da barbela”, segundo Carlos Pires. O responsável disse ainda ao Jornal A GUARDA que “nesta altura é também muito procurada a orelha, o focinho, o chispe e as costelas de porco para os cozidos”.
Victor Antunes, do Talho Raul, também referiu que a maior procura de enchido e de bucho ocorre nesta quadra do Carnaval. “Vem muita gente de fora, de propósito, comprar enchido, principalmente de Coimbra e de Lisboa. Também há muito espanhol que chega aqui e compra o enchido e costeletas de vitela”, disse, reconhecendo que no Carnaval, tanto vende carne de vaca como enchido. “O pato fresco, o frango caseiro e o porco também têm grande procura nesta época”, disse. Victor Antunes referiu que a Guarda tem “produtos de qualidade e que são um espectáculo”, mas o negócio só não é melhor porque “o problema da Guarda é não ter gente, pois temos uma população envelhecida e pouco produtiva”, o que tem reflexos na economia.
No terceiro talho do Mercado Municipal, de Armando Costa Neves e Filhos, os enchidos de produção própria, pois possui uma salsicharia em Vale de Estrela, Guarda, estão em destaque. “Esta é a maior época para a venda dos enchidos e dos buchos. Sai de tudo um pouco, mas agora o mais forte é, de facto, o bucho”, disse Armando Neves ao Jornal A GUARDA. O talhante referiu que “vêm pessoas de fora comprar o bucho e outras que o compram e também o enviam para familiares que estão em França”. “Já não é tanto com antigamente, mas ainda vai muito enchido para França”, observou, referindo que no seu talho vende bucho durante todo o ano, embora pelo Carnaval “é quando tem mais saída”.
José Cabral, do Talho Cabral, também disse ao Jornal A GUARDA que o Carnaval “é a maior época do ano” no que diz respeito à venda de enchidos. “Vai-se vendendo todo o ano, mas agora vende-se mais, até porque vem pessoal de fora a comprar todo o tipo de enchido e, naturalmente, o bucho”, disse. Acrescentou que “às vezes também aqui se deslocam pessoas que vão para a França e levam o enchido, e outras que o compram e enviam pelas transportadoras para os familiares que estão emigrados”.
Por fim, o talhante António Júlio Coelho da Costa referiu ao jornal A GUARDA que nesta quadra vende-se “principalmente” o bucho que, para ser bom e tradicional, à moda da Guarda, tem de ser consumido no tempo frio. Os enchidos que vende no seu estabelecimento são comprados por clientes da Guarda e de fora, de Lisboa, de Coimbra, do Algarve, etc. “O emigrante, quando vinha, levava sempre, mas como a emigração fraquejou, já não leva nada. Ainda se vende alguma coisa para França, mas já não é nada como antigamente”, concluiu António Júlio Coelho da Costa.