“Um jovem da Guarda, do Porto, de Lisboa, do Algarve tem de ter as mesmas possibilidades de concretização de sonho”


D. Américo Manuel Alves Aguiar, Presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, esteve recentemente em Almeida, na assinatura de um protocolo com a Câmara Municipal, tendo em vista o acolhimento dos Jovens na Fronteira de Vilar Formoso. Nasceu em 12 de Dezembro de 1973, em Leça do Balio, Matosinhos. Foi ordenado Bispo titular de Dagno, no dia 31 de Março de 2019, na Igreja da Trindade, no Porto. Nomeado, pelo Papa Francisco, Bispo Auxiliar de Lisboa, no dia 1 de Março de 2019. A GUARDA: Considera importante a assinatura do protocolo entre a Diocese da Guarda e Câmara de Almeida a pensar na Jornada Mundial da Juventude?
Américo Aguiar: É um protocolo muito simbólico, principalmente na excelente ideia que tiveram, quer o COD da Guarda, quer a Câmara Municipal de Almeida, que partilharam connosco esta possibilidade de colocarem outdoors de boas vindas, numa das entradas principais via terrestre, aludindo à Jornada Mundial da Juventude.Confesso que ninguém se tinha lembrado de tal. Quando nos comunicaram ficámos felizes e demos todo o nosso apoio. A única coisa que podíamos fazer, no mínimo, era virmos a esta terra mas, acima de tudo, associarmo-nos áquilo que é o esforço do COD da Guarda, da Diocese e da Câmara Municipal de Almeida e depois copiar, ou seja, tentarmos que noutros municípios de fronteira terrestre com Espanha nós possamos replicar esta excelente ideia de colocarmos outdoors também do mesmo modo como acontecerá aqui no território de Almeida. 
A GUARDA: É importante dar uma boa imagem de acolhimento, logo à entrada do País?
Américo Aguiar: Há quem diga que não há uma segunda oportunidade como a primeira boa impressão. Aliás, não há nenhum de nós quando vai a algum país, seja na saída do aeroporto, seja noutro meio de transporte, as primeira impressões que temos, se são de boas vindas, se são de simpatia de acolhimento, é uma coisa, se porventura são mensagens ou acolhimentos diversos, desde ficar muito tempo retido na Alfandega, desde ter problemas desta ou daquela origem, por isso este tipo de gesto, este tipo de mensagem de acolhimento, alegre, feliz e jovem, acho que é um bom bilhete entrada no nosso país, nos próximos meses de Verão, quer agora imediatamente, quer depois mais proximamente da Jornada em 2023. 
A GUARDA: Considera que estes territórios estão esquecidos pelo Governo?
Américo Aguiar: Eu considero que nós, nós cidadãos, temos que olhar para o território de maneira diferente. Eu sou do Porto e estou a trabalhar em Lisboa e quando me dirijo ao interior, por exemplo a Barca D’Alva, onde a Misericórdia do Porto tem uma propriedade, ou a outros sítios como Bragança, Vila Real, Lamego, Elvas, Beja e o que é que nós temos na ideia? Temos a ideia quando habitamos ou nascemos ou vivemos nos grandes centros urbanos, temos muito gosto em ir visitar estes lugares. Parece que vamos ao jardim zoológico, parece que vamos ver uma reserva índia e depois regressamos e está tudo bem. Não pode ser só isso, temos de ser consequentes, ou seja, nós temos de criar as melhores condições de vida aos nossos concidadãos que permitem que este território continue a acontecer. Esta história, esta cultura, estas actividades agrícolas, industriais, seja o que for, só podem subsistir no território se existir, da parte dos grandes centros urbanos, e decisores políticos um verdadeiro interesse para que assim aconteça. Porque quando nós olhamos para o território e, ponto um: não tem população; ponto dois: os serviços públicos mínimos deixaram de existir; ponto três: mesmo a rede paroquial começa a ter dificuldade em responder a um território que tem pouca gente, seja pela diminuição do número de sacerdotes, seja pelas possibilidades, até materiais de conseguir manter viva uma comunidade nessas circunstâncias; ou seja, a minha preocupação maior não é o Governo A ou o Governo B, a Câmara A ou a Câmara B, a minha preocupação é como País, como Povo, sermos capazes de olhar para o território como um todo e tomarmos decisões, porque é disso que se trata. De diagnósticos acho que já chega. É como os diagnósticos dos centros urbanos, os diagnósticos estão feitos. É necessário, é urgente agir em conformidade. Temos ouvido falar na actual bazuca financeira que aí vem e que nós sabemos e desejamos que não seja unicamente para resolução de problemas imediatos mas que possa estruturalmente preparar muitas zonas do país para o futuro que aí vem e de um modo especial corresponder às espectativas daquilo que é o Portugal interior que tem esta riqueza, tem esta história, tem esta população, tem muitas possibilidades, tem muitos problemas e só podem ser resolvidos com a colaboração do todo nacional. 
A GUARDA: Os símbolos da Jornada começam a peregrinar pelo País a partir de Novembro. É um momento importante para congregar os Jovens?
Américo Aguiar: É verdade. Nós já temos os símbolos desde Novembro do ano passado, altura em que o papa Francisco no-los entregou, mas infelizmente a pandemia impediu que eles circulassem. Agora anunciámos que vão começar a peregrinar a partir de Novembro. A peregrinação dos símbolos tem sido em todas as edições o momento alto para agitar as águas, para agitar os corações, para fazer mover a juventude do país inteiro, independentemente se serem católicos ou não e nós aguardamos com muita ansiedade que isso aconteça. Estou sempre a dizer para ninguém ser ansioso, mas nós na organização vamos partilhando às vezes estes sentimentos, porque estes pontos e estes momentos de alguma incerteza que vão acontecendo, nós temos de os ultrapassar porque não podemos continuar a olhar para trás com indefinição. Temos que assumir o desafio, já não há folga para olhar para trás, para incertezas. Agora é fazer caminho, levantarmo-nos como Nossa Senhora, irmos ao encontro da juventude do Mundo inteiro para que venha a Lisboa e a Portugal e a Almeida, no Verão de 2023. A GUARDA: Qual o ponto da situação em relação espaço que vai acolher as grandes celebrações?
Américo Aguiar: O espaço que está sinalizado para os eventos centrais fica junto à Ponte Vasco da Gama, num território entre Lisboa e Loures, passa o Rio Trancão pelo meio. Até ao fim do Verão será laçado concurso público através da Sociedade de Reabilitação Urbana de Lisboa para adaptar o terreno à Jornada Mundial da Juventude. A mais valia desta localização é no pós-jornada. Este espaço, quer para Loures, quer para Lisboa, quer para os Portugueses em geral será para fruição pública. Será mais um parque ecológico, um parque verde que a população vai ter disponível após a organização da Jornada. Digamos que era um bocadinho da intervenção da Expo 98 que não foi realizada e que agora, com a oportunidade da Jornada Mundial da Juventude vai acontecer. É também uma resposta ecológica da organização da Jornada porque este espaço será um espaço verde e será um espaço importante para as populações ribeirinhas do Tejo quer em Lisboa, quer em Loures. 
A GUARDA: A pandemia veio complicar a organização da Jornada. Como é que têm lidado com todo este processo?
Américo Aguiar: Tem sido complicado desde o início. Aliás a Jornada era no Verão de 2022, passou para 2023. Há duas hipóteses que eu tenho partilhado: uma hipótese é que no Verão de 2023 as pessoas ainda não estejam com segurança suficiente de participar em eventos de grandes multidões internacional o que significa uma Jornada com a participação presencial e física baixa com outras soluções, outras respostas que a tecnologia permita. Aliás o Papa anunciou que a Jornada da Família, em Roma, em 2022, será principalmente videoconferência e não presencial pelas razões obvias e também por razões económicas que é nós sabermos se as famílias, se as pessoas têm capacidade económica para se deslocarem e para participarem. A nossa esperança e a nossa oração vai para que em 2023 exista segurança, exista certeza, exista vontade, exista economia, exista saúde para que a juventude do mundo inteiro possa viajar e possa concentrar-se em Portugal no Verão de 2023. Esse é o cenário melhor, o cenário maior que nós gostaríamos e queremos e estamos a trabalhar para que aconteça. É nisso que nós apostamos: que seja uma Jornada particularmente participada. Calhou-nos, e só Deus sabe, calhou-nos organizar uma Jornada muito estranha, num contexto pós pandémico de uma coisa que nós tínhamos ouvido falar no início do século XX, a febre espanhola, agora estamos a viver em directo, sem conhecimentos maiores, a navegar à vista. Agradeço muito às Dioceses, aos Comités Diocesanos e Paroquiais, Vicariais que tantos jovens estão a fazer, num contexto de incerteza que nos conquista. 
A GUARDA: Gostava de deixar alguma mensagem especial aos jovens da Diocese da Guarda?
Américo Aguiar: O cardeal Tolentino há tempos dizia: “não deixem que os problemas matem os sonhos” e isso é fundamental, independentemente de estarmos a falar do contexto das jornadas ou não. E, se calhar, de modo especial para os jovens dos territórios interiores do nosso país: “não deixem que os problemas esmaguem os vossos sonhos”. Quanto maiores os problemas maior a necessidade de os ultrapassar, mas não deixem que os problemas esmaguem os vossos sonhos e, depois, façam barulho, façam barulho, grite, gritem, chamem à atenção, sejam co-responsáveis na cidadania. O Papa diz que não gosta que se diga dos jovens que são os homens do amanhã, porque são hoje. Às vezes pode acontecer que no coração de um jovem, na sua mente, atendendo às circunstâncias, ele vá adiando as decisões, vá adiando aquilo que é a sua co-responsabilidade no governo da cidade, no governo das coisas públicas de todos. O que eu peço é que os jovens tenham rasgos de autonomia de maneira a fazerem ouvir às suas terras, às suas famílias, às instituições públicas, à Igreja, aquilo que são os seus sonhos, aquilo que são as suas  expectativas, para todos com eles sermos capazes de corresponder. Nós acreditamos e sabemos que Deus tem um sonho para cada um. É preciso que ele o ouça, que ele o entenda, que ele o consiga ler e depois que todos colaboremos para que ele se realize. Um jovem da Guarda, do Porto, de Lisboa, do Algarve tem de ter as mesmas possibilidades de concretização de sonho, as mesmas. E isso, infelizmente, não é assim tão fácil de ser verdade e, portanto, queremos colaborar para que seja verdade.