À medida que Jesus vai chegando ao fim da sua caminhada na terra, já em Jerusalém,

vão surgindo contra ele acusações e armadilhas para o apanhar em falso, tal como a que hoje nos é relatada por Mateus. Dois grupos inimigos, embora afastados por ideias contraditórias, juntam-se para tramar Jesus. Fazem-no com uma pergunta que, fosse qual fosse a resposta, quase de certeza lhe traria problemas e atrairia contra si mais inimizades e ódios: ‘Devemos pagar estes pesados impostos aos opressores que ocupam a nossa terra?’. Se respondesse com um ‘não’ acusavam-no de rebelião contra Roma; se respondesse com um ‘sim’ desiludia os pobres oprimidos que sempre disse defender. Diante deste dilema, talvez fosse melhor mudar de assunto. Porém o ‘mestre sincero, que ensina segundo a verdade’ (Mt 22, 15), sem fugir à questão, aponta para mais longe, não se limitando a uma resposta política, mas convidando a ir até à dimensão espiritual.

Jesus sabe que a dimensão social e política é importante, mas também sabe que é a Deus que “pertence a terra e tudo o que nela existe, o mundo inteiro e os que nele habitam” (Sl 24). Por isso, por mais ‘Césares’ que se arroguem donos de tudo, o verdadeiro dono é apenas o Senhor, “o Criador do céu e da terra” (Ap 14, 7). Esta certeza dá a Jesus a tranquilidade para dizer: ‘já que tendes moedas cunhadas com a cara de César nas vossas bolsas’, então, “dai a César o que é de César”. De facto, é um dever contribuir para o que é de todos. É dever de cidadania pagar os impostos, cumprir as leis, exercer as responsabilidades cívicas e políticas. A fé cristã não isenta ninguém das suas obrigações sociais. Pelo contrário, o cristão é chamado a ser um bom cidadão e a comprometer-se na construção de uma sociedade mais justa.

Mas Jesus não fica pela questão política ou social e convida a perceber que a vida, o coração e a alma de cada ser humano são de Deus. Somos sua propriedade porque em nós Ele imprimiu o seu rosto quando nos fez ‘à Sua imagem e semelhança’ (Gn 1, 26), porque temos imprimida no coração a Sua imagem. Por isso, a Deus, e só a Ele, cada um deve a sua própria existência. Portanto, se devemos ‘dar a César o que é de César’, com muito maior razão devemos dar “a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). O problema é cairmos em tantas idolatrias que, a pouco e pouco, nos vão afastando d’Aquele a quem tudo devemos. Vamos distorcendo o nosso coração com imagens de ídolos que nos absorvem e nos impedem de ser totalmente e só de Deus.
 
Senhor Jesus, Tu que imprimes no meu coração a vontade de Deus, faz que a minha vida se assemelhe à Tua. Tu que esperas que sejamos construtores de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, e não nos queres indiferentes diante das questões cívicas e políticas, faz de nós discípulos missionários, evangelizadores da sociedade.
Amén.