Entrevista: Carlos Alberto Maia Pereira, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Almeida


Carlos Alberto Maia Pereira é natural de Vilar Formoso, concelho de Almeida. Reside em Almeida, tem 67 anos de idade, casado, médico aposentado. Começou a escola primária em Vilar Formoso e terminou o ensino básico em Vale da Mula (concelho de Almeida). Estudou no Liceu Nun’Álvares em Castelo Branco e na Faculdade de Medicina de Coimbra onde concluiu a Licenciatura em 1978. Está radicado em Almeida desde 1982, após colocação no Centro de Saúde de Almeida. Gosta da agricultura e dos carros antigos, sendo entusiasta do icónico Citroen “dois cavalos”. Nos últimos anos dedica grande parte dos dias à Santa Casa da Misericórdia de Almeida, sendo actualmente o Provedor.
A GUARDA: A Santa Casa da Misericórdia de Almeida celebra, este ano, em Dezembro, 500 anos de existência. Como é que esta data secular vai ser celebrada em tempo de pandemia?
Carlos Pereira: A Santa Casa da Misericórdia de Almeida comemora, no dia 11 de Dezembro próximo, 500 anos de existência e deve-se ao escudeiro Pêro Garcia, residente na vila de Almeida, que solicitou, autorização para a fundar, ao Rei D. Manuel I, que lha concedeu por documento passado em Évora, tendo-o, posteriormente em 4 de Março de 1521, nomeado Provedor. A data já está a ser relembrada através de faixa colocada desde o início do ano corrente na fachada da igreja da misericórdia. Nela pode ler-se: “Santa Casa da Misericórdia de Almeida, 11/12/1520 - 11/12/2020, 500 anos a fazer o bem”. Pretendíamos comemorar o aniversário com uma cerimónia solene e várias outras iniciativas, mas, infelizmente, a pandemia em curso e o seu aparente recrudescimento, não permite planificar de forma consistente, vivendo-se em constante incerteza, particularmente no plano da convivência social, onde não se excluem medidas mais restritivas. Faremos o que for possível e ponderamos mesmo, o adiamento.
A GUARDA: De que maneira é que a instituição tem marcado a história e a vida de Almeida?Carlos Pereira: A Santa Casa tem marcado de forma intensa a história e vida dos almeidenses, embora de maneira discreta. Como qualquer misericórdia do país foi criada para acudir aos mais necessitados, frágeis e desamparados, aos doentes e garantir uma sepultura digna, conforme os ritos cristãos, a quem não tinha família ou recursos. Fê-lo de forma intensa e repetida, basta lembrar que Almeida tem uma história muito conturbada, pois a sua posição geográfica estratégica, desde sempre gerou disputas militares, que geravam mortes, viúvas, órfãos, fome e todo o tipo de miséria, terreno fértil para a irmandade intervir. O antigo Hospital da Misericórdia, que chegou até finais do século XX, é bem o exemplo da importância desta instituição na comunidade almeidense desde há cinco séculos.
A GUARDA: A Misericórdia tem protocolos com outras instituições de Almeida, nomeadamente Câmara Municipal, Juntas de Freguesia e paróquia?
Carlos Pereira: Apesar dos imensos e incomensuráveis serviços prestados pela Santa Casa no decurso da sua história, nem sempre teve reconhecimento por parte do poder, e isso, reflecte-se na falta de protocolos. Tem havido pontualmente colaboração com outros agentes locais, nomeadamente o Município e mais particularmente a paróquia, cujo pároco, durante muitos anos, assumiu a capelania da irmandade.
A GUARDA: Quais são as valências disponibilizadas pela Santa Casa da Misericórdia de Almeida?
Carlos Pereira: Após a “Revolução dos cravos”, com a nacionalização dos hospitais das Misericórdias, a irmandade ficou altamente ferida na sua acção e teve que renascer e reerguer-se. Graças ao Padre Manuel Gomes e sua equipa, na época provedor, foi aberta a valência de creche/infantário.Presentemente apenas a creche se mantém, pois o jardim infantil ficou sem frequência, em parte devido à evolução demográfica, ao que se somou a abertura de uma sala de ensino pré-primário sem levar em conta que o serviço já existia há cerca de 30 anos! Mais tarde, no início da última década do século passado, construiu-se o lar, hoje ERPI, com 64 utentes. A par do apoio à terceira idade na ERPI, foi disponibilizada a valência de SAD, serviço de apoio domiciliário.O antigo hospital, devolvido pelo Estado após construção do novo Centro de Saúde de Almeida, que no seu todo estava bastante degradado, sofreu obras profundas e foi reconvertido em Lar, com o objectivo de acolher os idosos com menor autonomia, com uma lotação de 17 camas.Em 2015 com a inauguração da Unidade de Cuidados Continuados Integrados de Longa Duração, a irmandade retomava a sua acção no campo da saúde voltando a tratar doentes.
A GUARDA: Quais as principais dificuldades que a Misericórdia de Almeida tem sentido nesta pandemia da Covid19?
Carlos Pereira: A pandemia COVID-19 veio colocar-nos novas dificuldades, tal como ao país e aos cidadãos.Restrição do convívio, precaução nos contactos, distanciamento social, condicionamento de visitas, medidas de higiene, desinfecção e de prevenção exigentes. Acréscimo de despesa muito significativo que somado aos encargos financeiros já existentes, sobrecarregam o já difícil equilíbrio orçamental. Felizmente, até ao momento, sem casos de infectados.
A GUARDA: Quais os projectos que a actual mesa administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Almeida tem em curso ou gostaria de concretizar?Carlos Pereira: Hoje, a Santa Casa tem pequenos projectos de melhoria das condições oferecidas aos utilizadores seniores, aumentando as salas de convívio, permitindo um distanciamento maior dos frequentadores e terminando os anexos à Unidade de Cuidados Continuados. O foco principal está na resolução dos encargos financeiros assumidos com a construção da Unidade de Cuidados Continuados que propiciarão a sustentabilidade da instituição.